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"Minha Mãe" encena erotismo de Bataille
Versão de livro de ensaísta francês sobre incesto é dirigida por Inês Aranha e protagonizada por Bia Toledo
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O ensaísta e romancista francês Georges Bataille angariou o
epíteto de "pensador da transgressão". A adaptação de "Minha Mãe" para o palco faz jus a
isso, como se verá na montagem que estréia hoje em São
Paulo. São cenas de enfrentamento do tabu do incesto para
questionar noções de amor e
violência, loucura e desejo no
território do erotismo.
Há cinco anos o escritor Elzemann Neves alimenta o projeto de adaptar e traduzir a
obra, que chega ao palco por
meio da Cia. Nua, com interpretação solo de Bia Toledo e
direção de Inês Aranha.
"Minha Mãe" (1966) é a primeira parte de uma trilogia inacabada do autor. No livro, a história é narrada pelo filho, que
constrói a personalidade de
Hélène, a mãe, a partir de sua
imatura concepção de vida. A
adaptação de Neves tem como
desafio dar voz a Hélène, transformando-a no centro da ação.
Na livre adaptação, Hélène
dirige-se a Pierre, personagem
que é como se fosse encarnado
pela platéia. A ação se passa em
1906. Ela tem 32 anos, o marido
acaba de morrer e o monólogo
constitui sua tentativa de desnudar-se por inteiro ao filho.
Ela dará notícias da vida libertina ao lado do marido, o homem que nunca a tocou depois
de violentá-la aos 13 anos, mas
que vive um casamento feito de
orgias com terceiros.
"A Hélène é muito envolvente, apesar de não ser simpática.
É muito imperativa e cruel. Ela
sofre um pouco pelas decisões,
mas são dúvidas até certo ponto passageiras. Sua maneira de
amar é bastante perturbada",
afirma a atriz Bia Toledo, 32.
Em seu primeiro monólogo
na carreira, metade da vida como atriz, Toledo multiplica-se
entre as diversas máscaras de
Hélène, além da dar "corpo" a
Pierre a Réa, a prostituta com a
qual a mãe introduz o filho no
reino da libertinagem em que
ela é rainha absoluta.
Dirigindo-se ao público, a
personagem explica: "Para ele,
sou um quebra-cabeças de partes surpreendentes: doçura
triste, melancolia fascinante,
felicidade lasciva. A melancolia
ele relacionava à maldade de
seu pai. A alegria às minhas saídas depois do almoço, que podiam durar um dia inteiro".
As mudanças de tempo e espaço são pontuadas por meio
da partitura física da atriz, conforme a encenação de Inês Aranha, especializada na preparação corporal de elencos.
MINHA MÃE
Onde: teatro Crowne Plaza (r. Frei Caneca, 1.360, tel. 3289-0985)
Quando: estréia hoje, às 21h; sáb., às
21h, e dom., às 20h. Até 25/11
Quanto: R$ 30
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