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Crítica/ "O Fantástico Sr. Raposo"
Tom melancólico percorre fábula
Animação de Wes Anderson adapta livro de Roald Dahl e traz vozes de George Clooney, Meryl Streep e Bill Murray
Divulgação
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Em "O Fantástico Sr.Raposo", personagem-título planeja um derradeiro plano de assalto antes de abandonar "vida criminosa"
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Quem conta um conto
aumenta um ponto: a
máxima, sempre aplicável a adaptações da literatura
para o cinema, ganha ilustração
expressiva com "O Fantástico
Sr. Raposo", extraído pelo diretor e roteirista norte-americano Wes Anderson do livro homônimo do galês Roald Dahl
(1916-1990).
Outro cineasta com autonomia criativa para fugir da reverência burocrática que vitima
muitas transposições já havia
feito o mesmo, recentemente,
com outra obra de Dahl: o norte-americano Tim Burton. O
diretor incorporou "A Fantástica Fábrica de Chocolate"
(2005) a seu universo ficcional,
povoado por mãos de tesoura,
cavaleiro sem cabeça e Natal
em forma de Halloween.
A tarefa de Anderson talvez
fosse um pouco mais complicada porque os protagonistas de
"Sr. Raposo" são animais, e a
encomenda envolvia um longa
de animação em "stop-motion". Como alinhar projeto
com essas características a
"Três É Demais" (1998), "Os
Excêntricos Tenenbaums"
(2001), "A Vida Marinha com
Steve Zissou" (2004) e "Viagem
a Darjeeling" (2007)?
Anderson e o corroteirista
Noah Baumbach (diretor de "A
Lula e a Baleia" e "Margot e o
Casamento") optaram por encarar o livro de Dahl como matriz para humanizar o comportamento dos personagens. Com
a expansão de situações e a inclusão de subtramas e inúmeros detalhes, chegaram a uma
fábula adulta com ternura infantojuvenil.
Sumariamente descrito no livro, o Sr. Raposo (voz de George Clooney) adquire os contornos mais coloridos de um chefe
de família classe média, já próximo da idade em que o pai
morreu, e que procura se afastar da "vida criminosa" como
ladrão de galinhas para trabalhar como... colunista de jornal.
Seu maior sonho é levar a
mulher (Meryl Streep) e o filho
(Jason Schwartzman) para
uma nova toca, mais ampla e de
melhor vista. O chamado da natureza, no entanto, o leva a arquitetar um derradeiro plano
de assalto aos três fazendeiros
que controlam a região, despertando neles o desejo de vingança. Aí, o tempo fecha.
Mas fecha à moda Anderson,
quase sempre percorrendo caminhos inesperados, com a extravagância tratada como se
fosse algo natural, a fragilidade
encarada como resposta da
sensibilidade a um mundo que
não nos compreende e ao qual
não nos ajustamos, e um tom
de melancolia brotando de
olhar poético sobre a vida.
O núcleo mais expressivo
desse universo (e ausente no livro de Dahl, que traz "quatro
raposinhas" como filhas do casal) é o protagonizado pela rivalidade entre o filho e seu primo;
o momento mais feliz, o da homenagem ao lobo que atemoriza o Sr. Raposo, mas que lhe
inspira admiração, como toda
alma solitária.
O FANTÁSTICO SR. RAPOSO
Direção: Wes Anderson
Produção: EUA, 2009
Onde: Espaço Unibanco Augusta, Frei
Caneca Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: livre
Avaliação: bom
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