São Paulo, domingo, 06 de dezembro de 2009

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Crítica/ "O Fantástico Sr. Raposo"

Tom melancólico percorre fábula

Animação de Wes Anderson adapta livro de Roald Dahl e traz vozes de George Clooney, Meryl Streep e Bill Murray

Divulgação
Em "O Fantástico Sr.Raposo", personagem-título planeja um derradeiro plano de assalto antes de abandonar "vida criminosa"

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Quem conta um conto aumenta um ponto: a máxima, sempre aplicável a adaptações da literatura para o cinema, ganha ilustração expressiva com "O Fantástico Sr. Raposo", extraído pelo diretor e roteirista norte-americano Wes Anderson do livro homônimo do galês Roald Dahl (1916-1990).
Outro cineasta com autonomia criativa para fugir da reverência burocrática que vitima muitas transposições já havia feito o mesmo, recentemente, com outra obra de Dahl: o norte-americano Tim Burton. O diretor incorporou "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005) a seu universo ficcional, povoado por mãos de tesoura, cavaleiro sem cabeça e Natal em forma de Halloween.
A tarefa de Anderson talvez fosse um pouco mais complicada porque os protagonistas de "Sr. Raposo" são animais, e a encomenda envolvia um longa de animação em "stop-motion". Como alinhar projeto com essas características a "Três É Demais" (1998), "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001), "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004) e "Viagem a Darjeeling" (2007)?
Anderson e o corroteirista Noah Baumbach (diretor de "A Lula e a Baleia" e "Margot e o Casamento") optaram por encarar o livro de Dahl como matriz para humanizar o comportamento dos personagens. Com a expansão de situações e a inclusão de subtramas e inúmeros detalhes, chegaram a uma fábula adulta com ternura infantojuvenil. Sumariamente descrito no livro, o Sr. Raposo (voz de George Clooney) adquire os contornos mais coloridos de um chefe de família classe média, já próximo da idade em que o pai morreu, e que procura se afastar da "vida criminosa" como ladrão de galinhas para trabalhar como... colunista de jornal.
Seu maior sonho é levar a mulher (Meryl Streep) e o filho (Jason Schwartzman) para uma nova toca, mais ampla e de melhor vista. O chamado da natureza, no entanto, o leva a arquitetar um derradeiro plano de assalto aos três fazendeiros que controlam a região, despertando neles o desejo de vingança. Aí, o tempo fecha. Mas fecha à moda Anderson, quase sempre percorrendo caminhos inesperados, com a extravagância tratada como se fosse algo natural, a fragilidade encarada como resposta da sensibilidade a um mundo que não nos compreende e ao qual não nos ajustamos, e um tom de melancolia brotando de olhar poético sobre a vida.
O núcleo mais expressivo desse universo (e ausente no livro de Dahl, que traz "quatro raposinhas" como filhas do casal) é o protagonizado pela rivalidade entre o filho e seu primo; o momento mais feliz, o da homenagem ao lobo que atemoriza o Sr. Raposo, mas que lhe inspira admiração, como toda alma solitária.


O FANTÁSTICO SR. RAPOSO

Direção: Wes Anderson
Produção: EUA, 2009
Onde: Espaço Unibanco Augusta, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito
Classificação: livre
Avaliação: bom



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