São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

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Peça expõe guerra de nervos entre amigos

Texto de Neil Simon, "Estranho Casal" mostra compadres de perfis diferentes que dividem apartamento

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
O diretor Celso Nunes, que assina a montagem da comédia

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de atravessar duas décadas enfileirando empreitadas bem-sucedidas, como "Seria Cômico... Se Não Fosse Sério" (73), "Equus" (75) e "As Lágrimas Amargas de Petra von Kant" (82), o diretor Celso Nunes trocou o palco pelo consultório, no começo dos anos 90.
Buscava no rolfing (técnica de correção de desvios posturais) antídoto "à falta de apetite pela vida causada por lutos sucessivos": tinha perdido mãe, pai e casamento. A ideia era aprender os fundamentos e transmiti-los a seus atores. Mas ele acabou se formando na disciplina e, no lugar de Fernanda Montenegro, Paulo Autran e Renata Sorrah, passou a orientar pacientes com ombros desnivelados e colunas doloridas.
"Mas [o afastamento] nunca teve a ver com desinteresse pelo teatro. É só que não sou um produtor, nunca fui uma pessoa de me mobilizar para captar recursos", diz Nunes, 68, que fez incursões bissextas pela direção nos últimos anos.
"Gosto disso no meu perfil, porque não sou "egocentrado", não aplico muita energia em buscar coisas para as minhas próprias realizações. Tenho dado sorte de ser convidado para trabalhar como facilitador no sonho dos outros."
A mais recente fantasia que ele "apadrinhou" chama-se "Estranho Casal" e chega a São Paulo amanhã. "O [ator] Edson Fieschi me procurou num hotel dizendo ter visto "Lágrimas Amargas..." 32 vezes. Com os olhos arregalados como os da Fernanda [Montenegro, protagonista da dita peça], ele começou a fazer para mim uma paródia. Aí aceitei", lembra.

Choque de perfis
"Estranho Casal" é um texto de 1965 do americano Neil Simon (de "Sweet Charity") sobre dois amigos de longa data que dividem o mesmo teto depois que um deles se divorcia.
Oscar, o dono da casa, é um tipo desleixado, que gasta com pôquer, bebida e frivolidades aquilo que deveria destinar à pensão dos filhos. O sistemático Félix é seu reverso: obcecado por limpeza e muito cioso de horários e compromissos, traços que a ressaca pós-separação (que ele custa a superar) parece só acentuar.
Do choque de perfis e dos ecos matrimoniais que a relação deles adquire vem a graça da peça, adaptada para o cinema em dois filmes com Walter Matthau e Jack Lemmon e para a TV num seriado de cinco temporadas. Simon faz humor popular, de comunicação cristalina, sem apelar para a grosseria que poderia advir do "papo de macho". O que não significa ausência de malícia e diálogos de duplo sentido.
"É uma peça quase antiga, no sentido de ter a delicadeza de falar sobre esse "clube do Bolinha" sem cair na vulgaridade", observa o diretor.


ESTRANHO CASAL

Quando: estreia amanhã; sex., às 21h30, sáb., às 20h e às 22h, e dom., às 20h; até 28/3
Onde: teatro Folha - shopping Pátio Higienópolis (av. Higienópolis, 618, tel. 3823-2323)
Quanto: de R$ 50 a R$ 60
Classificação: 12 anos




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