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crítica
Grupo Espanca! mantém excelência na segunda peça
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Em arte, quando a consagração vem já na primeira empreitada, a segunda pode ser um pesadelo. O
Grupo Espanca!, por exemplo.
Tendo estourado inesperadamente com "Por Elise", no Festival de Curitiba de 2005, multipremiado pelo Brasil afora, o
seu segundo espetáculo gerou
uma forte expectativa: seria
sorte de principiante?
O problema é que, se "Amores Surdos" fosse muito diferente do primeiro, daria a impressão de falta de projeto, de franco-atiradores em busca de
fama. Esperava-se uma fábula
sutil, como a primeira, com frases aparentemente ingênuas
que iriam ganhando sentidos
cada vez mais profundos a cada
leitura. Mas, no entanto, se fosse muito parecida, diluiria o
impacto inicial: o grupo estaria
seguindo uma fórmula rentável.
Acontece que nada é por acaso no Espanca. Basta checar no
blogger do grupo o detalhado e
bem escrito diário de criação de
"Por Elise" (www.porelise.blogger.com.br/2005-01-01-archive.html). Desde o
primeiro ensaio, de 2005, o
grupo busca em conjunto uma
linguagem não necessariamente nova, mas que sirva para eles
contarem o que precisam contar.
Por isso, mais do que comparar um espetáculo com o outro,
é revelador comparar a atual
temporada de "Amores Surdos" com a de 2006, no Sesc
Pompéia. O texto nunca deixou
de evoluir, as marcas se tornaram mais essenciais e precisas.
O que parecia uma referência
excessiva ao universo de Ionesco (uma espécie de síntese entre "Rinoceronte" e "Amadeu
ou Como se Livrar dele") tornou-se uma fábula orgânica,
extremamente pessoal, combinando o pueril com o visceral
-como "Por Elise".
Desta vez a direção não é
mais da autora Grace Passô,
mas de Rita Clemente. Com isso, o grupo ganhou uma estética um pouco diferente, com incorporação de um cenário quase realista -e um pouco desajeitado- e marcações mais
abstratas. No entanto, a interpretação dos atores não deixa
nunca o espetáculo se tornar
hermético ou aleatório.
Assim, Paulo Azevedo, um
ator de grande altura, faz o papel de "Pequeno", o frágil irmão mais novo, sem evitar o
grotesco, mas sem cair no ridículo, em performance inesquecível. Passô reitera sua função
materna, com a força habitual,
mas dessa vez a função de narrador é feita sobretudo por
Gustavo Bones, o irmão que,
sonâmbulo, se dirige à platéia,
em divertido truque metalingüístico.
Marcelo Castro, com um
personagem menos definido (o
irmão que não consegue sair de
casa) e Mariana Maioline (a irmã alheia), com menos experiência de atriz, completam o
elenco de grande cumplicidade
em cena.
Comédia? Tragédia? Bufonaria? A dificuldade de se pôr um
rótulo em "Amores Surdos" é a
garantia de que muito ainda virá do Espanca!. Um conselho
apenas: não se apresse em
aplaudir na cena final, no escuro. O final é desnorteante.
AMORES SURDOS
Quando:
sex. e sab., às 21h30; dom., às
18h. Até 24/2
Onde:
Unidade Provisória Sesc Avenida Paulista - espaço 12º andar (av. Paulista, 119, Bela Vista, região central, tel. 3179-3700)
Quanto:
R$ 5 a R$ 20
Avaliação:
bom
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