São Paulo, quarta-feira, 07 de junho de 2006

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Crítica/cinema

Sem qualidade do filme original, "A Profecia" não mantém suspense

Divulgação
O garoto Seamus Davey-Fitzpatrick, que interpreta Damien


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi com grande estardalhaço em torno da data de ontem -o sexto dia do sexto mês do sexto ano deste século, remetendo a 666, o chamado "número da besta"- que o remake do suspense "A Profecia" chegou aos cinemas mundiais, incluindo o Brasil. Agora que o dia passou e, como dizia Assis Valente, o tal do mundo não se acabou, o que sustenta o interesse neste filme? Nada, para quem já viu o original, de 30 anos atrás. Para os demais, há algum suspense e não muito mais do que isso. O roteiro (quase idêntico ao do original) versa sobre um diplomata norte-americano que aceita a oferta de um padre quando sua mulher perde o filho durante o parto: adotar um outro garoto, recém-nascido e sem família, sem contar a ninguém sobre a troca. Aos poucos, uma série de eventos bizarros começa a circundar o garoto e seus pais, fazendo com que o diplomata perceba que a troca não foi sem propósito -segundo lhe informa outro padre, seu filho, Damien, vem a ser o demônio reencarnado, colocado convenientemente numa família em que pudesse prosperar financeira e politicamente. Um dos principais problemas da refilmagem está aí: o original consegue manter algum suspense (graças à direção e aos bons atores) quanto à possibilidade de o garoto ser ou não o capeta. Diferentemente daquele Damien empático, aqui o menino é o coisa-ruim desde que o vemos surgir. Mas comparar este filme de John Moore com o primeiro, de Richard Donner, é covardia. O original, que seguiu a onda dos bem-sucedidos suspenses em que uma criança aparecia como veículo para o capeta -vide "O Bebê de Rosemary" (1968) e "O Exorcista" (1973)-, tinha os gigantes Gregory Peck e Lee Remick onde hoje estão os quase anônimos Liev Schreiber e Julia Stiles, respectivamente. Tinha também uma preocupação em fazer um suspense sem sustos fáceis, amparado no bom roteiro, na direção e na impecável trilha sonora (vencedora do Oscar de 1977). Aqui, o diabo quase veste Prada: os cenários são chiques, "clean", com uma insistência desnecessária na simbologia do vermelho e em analogias com acontecimentos recentes, como o 11 de Setembro e o tsunami. De resto, a "polêmica" do número 666 é questionável: além de não ser mau agouro para todas as culturas, pesquisas recentes e papiros bíblicos indicam que o número original que aparece no "Apocalipse" é 616.

A PROFECIA   
Direção: John Moore
Elenco: Liev Schreiber, Julia Stiles, Seamus Davey-Fitzpatrick
Produção: EUA, 2006
Quando: em cartaz no Iguatemi Cinemark, Central Plaza, Shopping D, Unibanco Arteplex e circuito


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