São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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TEATRO

Espectadores são agarrados aos atores a 12 m do chão no espetáculo do grupo argentino que tem técnicas de circo

De La Guarda exige fôlego para "brincar"

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Cena do espetáculo "Villa Villa", com o grupo argentino De La Guarda, em cartaz por tempo indeterminado no Espaço Smirnoff


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Olha lá o Nino do Rá-Tim-Bum", aponta um adolescente para o ator Cássio Scapin, então na pele de espectador, requebrando como numa pista de dança ao final do espetáculo "Villa Villa", do grupo argentino De La Guarda, em São Paulo.
Esse encontro embaralha ainda mais realidade e fantasia na cabeça do público que acompanha, em pé, cerca de 70 minutos de imagens e movimentos de impacto construídos pelo corpo de atores-dançarinos voando ou correndo pelas paredes em meio a muita fumaça, luzes estroboscópicas e percussão musical.
"É simplesmente alucinante", diz a comerciante Lourdes Zago, respiração ofegante, à saída do Espaço Smirnoff (zona sul), numa quarta-feira de junho. A apresentação fechada para uma empresa de moda esportiva reuniu 500 pessoas e foi acompanhada pela Folha (a peça segue em cartaz por tempo indeterminado).
Os primeiros 15 minutos de "Villa Villa" são os mais lembrados. O público adentra uma espécie de caixa-preta. O teto é baixo, na forma de um invólucro de papel, transparente. No apagar das luzes, ouvem-se gritos histéricos, isqueiros são acesos.
"O acesso de pessoas que sofrem de epilepsia é de inteira e exclusiva responsabilidade da mesma", espanta um dos enunciados do cartaz ao lado da bilheteria. Também pede-se atenção aos que sofrem de claustrofobia ou têm problemas no coração.
São corpos dependurados em cordas, bailando entre bexigas, fumaças, até romperem a "placenta" em que a platéia estamos envolvidos. Despontam os pés, as mãos e, por fim, a cabeça dos intérpretes, até que o teto cai, com sua tempestade de estrelas. Imagens intraduzíveis.
"Parece mesmo que o céu vai cair, que vai despencar uma tromba d'água", afirma Zago. Antes do espetáculo, o público recebe uma capa de chuva. "Na verdade, pensei que a gente ia se molhar mais", diz a publicitária Carolina Pimenta, que tinha expectativa de um espetáculo circense e acredita que, em parte, foi isso o que viu.
Para os atores Rodrigo Matheus (Circo Mínimo), Erica Stoppel e Ziza Brisola (ambas da Linhas Aéreas), que trabalham a linguagem circense em suas criações, os números de "Villa Villa" derivam de técnicas do alpinismo. O trio acompanhou a mesma sessão a pedido da Folha.
"Eles usam cordas de alpinismo, o mosquetão [peça metálica que serve para prendê-los com segurança], enfim, material e técnicas que, claro, o circo, a dança e o teatro já incorporaram, mas, originalmente, não têm nada do treinamento circense, da destreza do corpo", diz Matheus.
"Hoje em dia, o esporte radical está tão disseminado que a garotada pula até de pára-quedas. Não é mais uma coisa assustadora, pelo contrário", diz Stoppel, argentina radicada no Brasil há 13 anos. "Em "Villa Villa" todo mundo quer ser pego naquela cena em que alguns são eleitos para voar agarrado aos atores."
"Voar com os atores é o melhor de tudo. Dá um frio na barriga, mas seria melhor ainda se eu voasse sozinha", diz a paisagista Helena Overmeer, uma das eleitas, que ficou a 12 m do chão.
Incentivado a ver o espetáculo por um amigo, o estudante Marcelo Ribeiro do Vale não encontrou um fio narrativo, "mas uma coisa meio débil, pesada, com imagens fortes, agressivas".
De fato, os diretores Pichon Baldini e Diqui James pretendem em "Villa Villa" a celebração de uma festa. São quadros em que o público tem estimulados sobretudo os sentidos visual e sonoro. As vivências são reforçadas por elementos como a água e o fogo.
"Da metade para o fim o espetáculo se esvazia um pouco, exige menos da imaginação", diz Brisola. "É um evento diferente, mas parece cansativo para quem faz e um pouco para quem está assistindo. Há o desconforto de ficar olhando para cima", diz a consultora farmacêutica Andréa Uchoa.

VILLA VILLA. Com: grupo De La Guarda. Onde: Espaço Smirnoff (av. Roque Petroni Jr., 720, Jardim das Acácias, tel. 0/xx/11/5561-2671). Quando: qua. e qui., às 21h30; sex., às 22h; sáb., às 20h e 22h30; e dom., às 19h. Quanto: R$ 100.


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