São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Mostra exibe série com 10 filmes de jovens documentaristas latinos

Dentro do Festival de Cinema Latino-Americano, títulos debatem identidade

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O que significa ter uma nacionalidade? O estímulo a encontrar símbolos ou comportamentos de uma identidade nacional acompanha a história dos países do Terceiro Mundo desde o início da descolonização. Mas o que ela ainda traz de específico no século 21, quando se tornou mais difícil localizar uma identidade que uma agulha no palheiro?
É a tal enigma que se entregam os jovens realizadores que aceitaram o desafio da série "Os Latino-Americanos", produzida pela TAL (Televisão América Latina). Dez títulos já concluídos pré-estréiam no 3º Festival de Cinema Latino-Americano: argentinos, bolivianos, colombianos, cubanos, equatorianos, mexicanos, paraguaios, peruanos, uruguaios e venezuelanos.
Desta primeira dezena, a Folha teve acesso à metade. Nestes, o sinal comum mais evidente é a sobreposição da fragmentação à utopia da identidade. E é daí que o conjunto adquire sua maior força. Em vez de ceder aos encantos do folclórico ou buscar nas raízes uma suposta identidade fundada em bases míticas tampouco certas, os jovens documentaristas do projeto preferiram auscultar o presente. É a partir dele que se deixa de lado a equívoca tentativa de se encontrar a alma de um povo, seja ele venezuelano, uruguaio ou mexicano e se consegue obter um retrato bastante justo de identidades que, se existem, só se mapeiam no plural.
A estratégia comum aos trabalhos é percorrer os países, entrevistando gente comum. Enquanto as perguntas tentam definir o "uruguaio", o "cubano" etc., as respostas permanecem no terreno dos estereótipos ou da generalidade, como "somos gentis", "somos acolhedores", "somos criativos".
Logo abaixo outra camada de significados emerge, quando a voz dos personagens ocupa a cena e torna muito mais reveladoras suas experiências, seus anseios, suas mágoas e outros tantos sentimentos vividos.
Cada trabalho não perde de vista as especificidades locais, como práticas religiosas, misturas étnicas, efeitos de migrações, de políticas econômicas e de injustiças sociais. Mas o faz na perspectiva do sujeito, sem nunca dissolvê-lo sob instâncias generalizantes.
Ao desfocar o fator nação e transferir a atenção para a perspectiva individual, a série desloca-se para a realidade, na qual os simbolismos ufanistas e os delírios fascistas do passado recente, até prova ao contrário, viraram velharias guardadas no baú.

OS LATINO-AMERICANOS
Quando: estréia com "Os Uruguaios" hoje, às 20h30, para convidados
Onde: 3º Festival de Cinema Latino-Americano; Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664; tel: 3823-4600; programação e classificação indicativa em www.memorial.sp.gov.br)



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