São Paulo, quinta-feira, 07 de julho de 2011

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Fotógrafos reinterpretam o Bom Retiro

Bob Wolfenson, Cia de Foto e Marlene Bergamo se inspiram em série feita por Cristiano Mascaro nos anos 70

Obras expostas agora no Centro da Cultura Judaica registram as várias caras do bairro, que é ímã de imigrantes

Divulgação
Fotografia de Cristiano Mascaro feita para ensaio de 1976, que está agora em exposição no Centro da Cultura Judaica

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Em 1976, Cristiano Mascaro fotografou as ruas do Bom Retiro e da Luz. Maquinistas dos trens, homens fardados, mulheres no parque e toda a vida errante dos bairros do centro está retratada num preto e branco que exalta o movimento.
Nas vitrines, vestidos de noiva vibram numa aura fantasmagórica. Um rapaz lendo o jornal num café lembra um James Dean paulistano, flagrado entre a decadência da época e o turbilhão de povos distintos que até hoje chacoalha o bairro paulistano.
Mais de três décadas depois, os fotógrafos Bob Wolfenson, Marlene Bergamo e o coletivo Cia de Foto revisitam o ensaio em mostra no Centro da Cultura Judaica, multiplicando as visões sobre a região que recebeu primeiro os judeus e mais tarde levas de toda sorte de imigrantes.
Esse caráter de trânsito está explícito nos trabalhos da Cia de Foto. Em vez de fotografar o lugar, buscaram memórias dele no Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, uma casa em Pinheiros que guarda lembranças dos judeus que vieram para o país.
Ressuscitam as imagens empoeiradas da época em novos enquadramentos vorazes, deslocando o assunto para as margens e exaltando os contrastes, como se guiados pela ideia de passagem.
Em contraponto, mostram um vídeo colorido em plano fechado do fluxo de gente rumo à estação da Luz no fim do dia, inundando a parede oposta da galeria com uma espécie de onda humana.
Marlene Bergamo, repórter-fotográfica da Folha, restringe a ação à noite do bairro. São registros fugazes, espécie de escuridão líquida que envolve os personagens.
Também aparecem os vestidos de noiva vendidos por ali, agora em chave soturna, figuras encapuzadas, cães perdidos, judeus na saída de uma sinagoga e mesmo um casal de braços dados.
É essa rotina do bairro que aparece nas imagens de Bob Wolfenson, fotógrafo que cresceu no Bom Retiro. Ele retrata conversas na calçada, a visão das varandas e até os pátios internos dos prédios.
Uma vista noturna debaixo de chuva, trabalho que fez na década de 1970, arremata o conjunto, transformando uma rua dali numa tela a óleo sobre asfalto, os tetos dos carros brilhando metálicos diante do casario antigo.

BOM RETIRO E LUZ

ONDE Centro da Cultura Judaica (r. Oscar Freire, 2.500, tel. 3065-4333)
QUANDO de ter. a sáb., 12h às 19h; dom., 11h às 19h; até 2/10
QUANTO grátis


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