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Crítica/"Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito"
Sucesso de bilheteria, longa espírita não
passa de marketing disfarçado de cinema
Divulgação
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Carlos Vereza interpreta o cearense Bezerra de Menezes
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O bom desempenho de público no fim de semana de sua estréia colocou o filme "Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito" em posição de relativo destaque no quadro da frágil recepção do cinema brasileiro.
Com 51.389 espectadores, segundo dados do boletim Filme
B, o longa-metragem sobre a vida do médium cearense ultrapassou o público do elegante
musical "Os Desafinados" e da
deselegante comédia "Trovão
Tropical".
Não causará estranheza se o
filme bater recordes de bilheteria, a despeito de suas evidentes
fragilidades. O roteiro se contenta em mal alinhavar as cenas da vida, e os desempenhos
não ultrapassam o patamar do
teatrinho escolar.
A impressão é de uma produção "artística", já que os defeitos aparecem escondidos sob
uma pátina (a direção de arte é
cuidadosa na maior parte das
cenas, e a fotografia sugere
atemporalidade por meio do
abuso de filtros).
Contudo, a resposta positiva
de público ultrapassa a da simples relação instável do cinema
brasileiro com sua audiência.
Não se trata nem de uma
obra de ficção, tampouco de um
documentário, mas, sim, de um
docudrama produzido por uma
ONG espírita para divulgar a
obra de um líder religioso e que
ainda traz mensagem explícita
de uma campanha nacional antiaborto. Ou seja, sua intenção
é semelhante à de um vídeo institucional feito para, digamos,
difundir o papel de uma personalidade, de uma empresa ou
de uma causa.
Nesse sentido, a função de
"Bezerra" é a mesma dos filmes
bíblicos que a Record exibia para atender a demanda de fiéis
evangélicos. Em ambos os casos, trata-se de uma pregação
para convertidos.
Para os outros, que não estão
dispostos a integrar o rebanho,
o longa não passa de marketing
mal disfarçado sob forma de filme ruim.
Avaliação: ruim
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