São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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Crítica/"Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito"

Sucesso de bilheteria, longa espírita não passa de marketing disfarçado de cinema

Divulgação
Carlos Vereza interpreta o cearense Bezerra de Menezes

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O bom desempenho de público no fim de semana de sua estréia colocou o filme "Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito" em posição de relativo destaque no quadro da frágil recepção do cinema brasileiro.
Com 51.389 espectadores, segundo dados do boletim Filme B, o longa-metragem sobre a vida do médium cearense ultrapassou o público do elegante musical "Os Desafinados" e da deselegante comédia "Trovão Tropical".
Não causará estranheza se o filme bater recordes de bilheteria, a despeito de suas evidentes fragilidades. O roteiro se contenta em mal alinhavar as cenas da vida, e os desempenhos não ultrapassam o patamar do teatrinho escolar.
A impressão é de uma produção "artística", já que os defeitos aparecem escondidos sob uma pátina (a direção de arte é cuidadosa na maior parte das cenas, e a fotografia sugere atemporalidade por meio do abuso de filtros).
Contudo, a resposta positiva de público ultrapassa a da simples relação instável do cinema brasileiro com sua audiência.
Não se trata nem de uma obra de ficção, tampouco de um documentário, mas, sim, de um docudrama produzido por uma ONG espírita para divulgar a obra de um líder religioso e que ainda traz mensagem explícita de uma campanha nacional antiaborto. Ou seja, sua intenção é semelhante à de um vídeo institucional feito para, digamos, difundir o papel de uma personalidade, de uma empresa ou de uma causa.
Nesse sentido, a função de "Bezerra" é a mesma dos filmes bíblicos que a Record exibia para atender a demanda de fiéis evangélicos. Em ambos os casos, trata-se de uma pregação para convertidos.
Para os outros, que não estão dispostos a integrar o rebanho, o longa não passa de marketing mal disfarçado sob forma de filme ruim.

Avaliação: ruim



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