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CRÍTICA
Aterballetto percorre labirinto da dança
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Platéia clara : um bailarino surge detrás de um quadrado branco no fundo preto.
Seus gestos riscam o espaço, definindo as formas. Cada articulação
expande o alfabeto do balé clássico, compondo outro texto para os
passos da dança. Foi assim, com
"Steptext", de William Forsythe,
que iniciou o programa da companhia de dança italiana Aterballetto, anteontem no Municipal.
O título é um trocadilho, que
define forma e intenção: "septet"/"step-text" (passo-texto ou
texto de passos). Uma nota da
"Chaconne" de Bach (1685-1750)
serve de senha para um novo ciclo
de movimentos, valorizando a
abstração e a descontinuidade. A
música se interrompe: só em alguns momentos se ouvem trechos maiores com a coreografia
-o suficiente para sugerir sua
construção, baseada nos moldes
da variação bachiana.
Dirigido por Mauro Bigonzetti,
o Aterballetto foi primoroso, do
início ao fim. Em "Canzoni" do
próprio Bigonzetti, o virtuosismo
é da essência. O que talvez não
baste: o entendimento do movimento não garante o interesse de
duos, girando no vazio.
"Heart's Labyrinth", de Jirí
Kylián, foi criada como homenagem a uma jovem bailarina que se
suicidou. Uma escada compõe o
cenário inicial, descendo do alto
do palco. No encontro com o
chão, uma porta-espelho dá passagem ao labirinto da dança.
Os gestos multiplicam a carga
emocional da música (Schoenberg, Webern, Dvorák). Nos duos
de Kylián, um corpo desliza pelo
outro, funde-se com ele e surge
depois do outro lado, em movimento contínuo. A metáfora é dolorosa demais, no caso, para qualquer palavra além do entendimento mudo e da admiração.
Aterballetto
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$20 a R$ 110
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nš, centro, tel. 222-8698)
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