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Cena da comédia da dupla francesa Nicolas e Bruno, que estreia na sexta-feira

SÉRGIO ALPENDRE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se pensarmos no cinema francês que tem estreado em nossas telas, na poesia trágica de "A Fronteira da Alvorada", de Philippe Garrel, ou na cinefilia emotiva de Christophe Honoré ("Canções de Amor", "A Bela Junie"), "Dois em Um", comédia protagonizada por Daniel Auteuil, parece fora de moda, algo de 1980 requentado para este século 21.
O filme de Nicolas e Bruno, dupla oriunda da televisão, está muito mais para "Um Espírito Baixou em Mim", de Carl Reiner, ou para as comédias populares que eram feitas em série na Itália e na França na década de 70 do que para o humor refinado de um Woody Allen. O início do filme assusta. Vemos o cantor descobrindo um antigo sucesso próprio no rádio. Ele tenta impressionar as moças do carro ao lado, liga para a esposa, comporta-se com patética afetação. Ao ouvir a buzina de um motociclista irritado, parte para a ofensa gestual e foge. Durante a fuga, atropela o distraído contador vivido por Auteuil, num visual bem distante daquele que o ator costuma exibir, com o cabelo no melhor estilo Zacarias e óculos enormes.
O que vem a seguir é uma confusão de sons e imagens.
Com o choque, o espírito do cantor vai parar no corpo do atropelado, dando início a uma série de trapalhadas um tanto previsíveis na tentativa de lidar com o novo companheiro, daí a comparação com Reiner, em que Steve Martin recebe o espírito de Lily Tomlin.
Acompanhamos essa confusão toda de maneira conturbada, com a visão subjetiva do cantor dentro do corpo do contador intercalando-se com a visão objetiva deste último na chegada ao trabalho.
A confusão mental do contador passa ao espectador, até que um se acostume à presença constante do outro.
Felizmente, é o corpo de Auteuil que abriga as duas personalidades do título, o que nos dá o conforto de acompanhar, durante uma hora e meia, um ator de primeira, capaz de arrastar espectadores pela simples menção de seu nome. O que impede que "Dois em Um" seja um belo exercício de humor é a dificuldade que Nicolas e Bruno tiveram ao imprimir um ritmo eficiente à trama. Alguns momentos prejudicam a fluidez, fazendo com que o filme pareça maior do que realmente é.