|
Próximo Texto | Índice
"SENHOR DAS FLORES"
Texto de Vinícius Márquez aprofunda tema do triângulo amoroso, com atuação de Caco Ciocler
Espetáculo revela o amor sem banalidades
Lenise Pinheiro/Folha Imagem
|
Caco Ciocler e Elias Andreato, em cena de "Senhor das Flores" |
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Não chegue atrasado, nem
cinco minutos, em "Senhor
das Flores": nesta montagem, cada momento é vital. É empolgante
ver como Vinícius Márquez aprofunda no texto o eterno tema do
triângulo amoroso, podendo contar com a inteligência de dois atores-diretores, dirigidos por um
diretor-ator.
Falar de amor em arte é um sério desafio: é muito fácil cair em
clichês mexicanos em nome de
nobres banalidades como "a
transformação do homem".
Evitando a tola pretensão de patrulhar o advento de uma "nova
era", Márquez expõe o desamparo dos que se entregam à paixão,
essa "dor feliz", na expressão de
Fernando Bonassi.
Aqui, não há fórmulas preestabelecidas, e cada cena existe para
questionar o que se afirmou na
cena anterior.
No início, o marido abandonado se embriaga com o patético de
sua situação para se valorizar
diante do jovem e rico amante
vindo para roubar seu grande
amor.
Na hora de consumar sua vingança, no entanto, se reconhece
na fragilidade do outro e cede a
função de fazer a outra feliz.
Na segunda cena, anos depois,
se inverte a relação de forças; e a
terceira volta a misturar as cartas.
Com um humor agridoce, que
confia na inteligência do espectador, pontuado de um lirismo lancinante, "Senhor das Flores" é um
grande texto.
Exagera talvez na densidade do
texto do marido, que exige muito
do ator, podendo levá-lo ao artificial. Outro ator, é claro, que não
seja Elias Andreato.
Transtornado e transtornante
na primeira parte, chega à beira
do excesso para recuar no último
momento, com perfeita maestria
de sua profissão.
Sua marcação barroca conta
com o contraste das linhas retas
de Caco Ciocler, que se contém
em pausas duras, mas vai se entregando aos poucos, para tornar
verossímil a surpreendente inversão que se segue. A partir de então, Ciocler confirma ser um dos
melhores atores de sua geração,
apoiando-se na imensa delicadeza de Andreato.
Nem encasulados em auto-indulgência pseudoterapêutica,
nem ostentando apenas uma fria
técnica, os atores se habilitam a
falar de amor como uma vertigem
compartilhada, expondo seu mistério, que conservam ao abrigo da
banalidade.
A direção de Marco Ricca viabiliza essa busca essencial, contando muito com a inteligência do
cenário e figurino de Aby Cohen e
Lee Dawkins, mas perde a simplicidade ao utilizar de modo "cinematográfico" a bem composta trilha de Eduardo Queiroz e abusar,
no final, da beleza da iluminação
de Maneco Quinderé.
Nada que desautorize, no entanto, o espetáculo: "Senhor das
Flores" tem a maturidade necessária para poder falar de amor.
Senhor das Flores
Direção: Marco Ricca
Texto: Vinícius Márquez
Com: Elias Andreato e Caco Ciocler
Onde: Cultura Inglesa Pinheiros (r.
Deputado Lacerda Franco, 333,
Pinheiros, região oeste, tel. 3039-0553)
Quando: Sex. e sáb.: 21h. Dom.: 20h. Até
27/4
Quanto: R$ 25 e R$ 30
Próximo Texto: Estréia: Sinisterra encara "desafio Saramago" Índice
|