São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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ARTE

Em mezanino de galeria, artista espanhola mostra devaneios plásticos

Leda retoma figuração prenhe de sutilezas

Divulgação
'Retrato', de Leda Catunda


JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O retrato que dá título à exposição é composto de 39 gotas de tecido. Gotas são os módulos básicos a que chegou a pintura de Leda Catunda em seu esforço de síntese que perpassou a década de 90. Filha dileta da "geração 80" -explosão de cores, figuras e volume no vocabulário pictórico da arte brasileira e internacional-, a artista distanciou-se da figuração na última década.
Nesta primeira mostra individual de pinturas em São Paulo desde 1998, Leda Catunda volta à figuração, mas de maneira transformada: em lugar da representação narrativa das pinturas pop dos anos 80, a imagem integra as novas obras como um elemento a mais na composição.
O "Retrato" traz o módulo puro entremeado de gotas com fotografias impressas em voile. São imagens de fragmentos de rostos. Como talvez se diga das duas filhas do casal: os olhos, as orelhas e a boca são da mãe, o nariz é do pai (o artista Sérgio Romagnolo, que expõe no Centro Cultural).
"Essa pintura retrata a maneira como duas pessoas convivendo muito tornam-se a mesma pessoa; e traz outros assuntos, como as tonalidades do corpo e os lugares cotidianos", explica a artista, referindo-se à foto de uma paisagem de Minas que também foi inserida na obra.
A técnica para impressão das imagens fotográficas chama-se inversão eletrostática, muito presente no vocabulário atual da moda, o que aponta a preocupação recorrente de Leda com a incorporação ou mimese de materiais industriais em sua obra.
Além disso tudo, "Retrato" fala de pintura: há nesse trabalho um acúmulo e uma sobreposição de camadas que promovem uma extensão dos limites do próprio meio. Já tendo sido denominadas pela artista "pinturas moles", as obras atualmente são consideradas "pinturas-objetos".
Nas peças intituladas "Suinã" e "Cigarras" -referências, respectivamente, à árvore e à praia com as quais a artista mais convive- o caráter objetual é mais manifesto, pois ambas têm uma estrutura aparente. Em "Suinã", os pedaços de pintura se entrelaçam sem cobrir toda a superfície.
Em fase de conclusão de sua tese de doutorado em poéticas visuais, Leda Catunda estabelece subdivisões requintadas para sua arte da maciez: "As mais volumosas apresentam uma teatralidade maior; há pinturas moles que pendem e outras que necessitam de estruturação para se erguer".
Nesse sentido, a obra "Minas" é a mais instigante da mostra, porque não se encaixa precisamente em nenhuma das subdivisões -tem pouco volume e estende-se aprumada na parede, sem pender nem organizar-se em uma estrutura-, demonstrando que a produção da artista escapa até à mais competente categorização.
Três pinturas de menores dimensões complementam a exposição, uma delas feita de retalhos das demais: "Nos trabalhos pequenos eu me aventuro mais, e deles acabam surgindo projetos para as pinturas grandes", conta.
No mezanino da galeria, a espanhola Alejandra Icaza apresenta pinturas que escondem, sob o jogo plástico, desenhos "entalhados" que remetem ao cotidiano e aos devaneios da artista, que realiza exposição individual pela primeira vez no Brasil.


LEDA CATUNDA (RETRATO) E ALEJANDRA ICAZA (MEZANINO) - quando: vernissage, hoje, das 20h às 23h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h. Até 6/9. Onde: galeria Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066). Quanto: grátis.



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