São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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ARTES CÊNICAS
Companhia chinesa mostra teatro de bonecos em duas apresentações, hoje e amanhã, no Sesc Ipiranga
Yang Feng traz fantoches a São Paulo

Divulgação
Os bonecos do manipulador chinês Yang Feng em cena do espetáculo "Contos da China", que passará por 11 cidades brasileiras neste mês


CLAUDIA ASSEF
especial para a Folha

Boa notícia para adultos e crianças admiradores da arte popularizada pelos bonecos do "Muppet Show". A companhia chinesa Yang Feng Puppet Theatre apresenta hoje e amanhã, no Sesc Ipiranga, o espetáculo de fantoches "Contos da China".
O termo "companhia" chega a ser um exagero, uma vez que o manipulador chinês Yang Feng trabalha sozinho.
"Cheguei a dirigir companhias com quase 80 integrantes", disse Feng, 48, em entrevista à Folha no saguão de um hotel em São Paulo. "Trabalhar com muita gente traz muitos problemas. Pelo menos, os bonecos não reclamam", brincou.
O manipulador, que está em sua quarta visita ao país, acha que a platéia brasileira é uma das melhores do mundo. "E o teatro de bonecos daqui também é muito bom", completa.
Além das onze apresentações que fará no Brasil -duas em São Paulo, quatro no Rio de Janeiro e cinco em Belo Horizonte-, Feng vai se dedicar a um trabalho em conjunto com o grupo carioca Sobrevento, um dos mais representativos do teatro de bonecos do país.
"Fui convidado pelo grupo para transmitir elementos do teatro de fantoches chinês, mas vou acabar aprendendo muito com os brasileiros", diz Feng.
Além de manipular os fantoches sozinho, Feng também os esculpe em madeira. "As características mais marcantes de seus bonecos são as incríveis expressões faciais", diz o diretor do grupo Sobrevento, Luiz André Cherubini. Os fantoches fabricados por Feng têm movimento de sobrancelhas, das maçãs do rosto, piscam, mostram a língua e são até capazes de franzir a testa.
"A técnica de Feng de movimentação dos bonecos também é muito peculiar", acredita Cherubini. "Durante o espetáculo, os bonecos são jogados ao ar, voam de uma mão para a outra, dão piruetas e fazem malabarismo", conta o diretor do grupo carioca.
O primeiro integrante da família de Feng a abraçar a profissão de manipulador de bonecos foi o avô de seu avô, há cerca de 200 anos.
"A família sempre encarou a manipulação de bonecos como um ganha-pão, um negócio, além de ser uma arte", diz. Feng, que só frequentou a escola até os 11 anos, quando decidiu largar os estudos para se tornar um manipulador profissional, foi apresentado à arte aos 6 anos de idade. "Matava aulas para assistir aos espetáculos."
"Meus familiares só pararam de fabricar e manipular fantoches quando houve as guerras e durante a revolução cultural chinesa, entre 1966 e 1970, por determinação do governo", lembra Feng.
Em 1990, Feng conheceu a repressão do governo chinês, de que ouvira falar por meio dos pais e avós.
Depois de se manifestar em favor do movimento democrático estudantil, reprimido com violência na praça da Paz Celestial, em Pequim, Feng foi aconselhado a deixar o país para não correr o risco de ser preso ou morto. Decidiu fugir para a Bolívia.
"Nem sei como fui parar lá, só sei que fugi", lembra. Da América do Sul, Feng chegou aos Estados Unidos, onde foi morar em Seattle, segundo ele, uma das cidades americanas mais importantes para o teatro de bonecos, só perdendo para Atlanta.
Só no ano passado, Feng fez mais de 200 apresentações no mundo todo. "Tenho viajado tanto que, às vezes, fico sem dormir durante uma semana por causa de fuso horários malucos", diz. "Já tenho até espetáculos agendados para 2001", espanta-se.
Para os espetáculos no Brasil, Feng preparou uma apresentação de cerca de uma hora de duração em que mostrará duas histórias: "O Macaco Pescando", que ele mesmo escreveu, e "O Monge e o Tigre", uma antiga lenda chinesa.


O Quê: Companhia Yang Feng Puppet Theatre Espetáculo: Contos da China Quando: hoje e amanhã, às 15h Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822, tel. 3340-2000) Quanto: de R$ 2,50 a R$ 5


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