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TEATRO
Sob a direção de Márcio Aurélio, a Cia. Razões Inversas encena "Maligno Baal, o Associal", que estréia hoje
Peça provoca o riso da cumplicidade
CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha
O autor alemão Bertolt Brecht,
que morreu em 1956, chegou aos
palcos brasileiros em 1958, com
"A Alma Boa de Setsuan", e desde então se consolidou com montagens consagradas de Antonio
Abujamra, Cacá Rosset, José Celso Martinez Corrêa, Augusto Boal
e Flávio Rangel.
Agora é a vez do diretor Márcio
Aurélio, que traz a São Paulo a peça "Maligno Baal, O Associal",
baseada em 27 fragmentos do autor alemão escritos entre 1930 e
1954.
Os textos, traduzidos por Ingrid
Koudela, são uma autocrítica do
autor, mesclando obra e análise
pessoal.
O espetáculo leva à cena a Cia.
Razões Inversas (de "Senhorita
Else") em uma série de fragmentos que tratam da associabilidade
e dos conflitos nas relações humanas.
O fio condutor de cada uma das
passagens é Baal, o primeiro personagem do autor, criado entre
1918 e 1919, que é resgatado sob
nova visão, menos instintiva,
mais irônica e consciente.
"A montagem traz um pouco
da linguagem de revista. São cerca
de 30 esquetes que abordam as dificuldades em um relacionamento ou diante de uma situação,
mostrando ao público referenciais de seu cotidiano, levando-o
ao riso e reconhecimento. Qualquer um pode ser Baal, por isso
trata-se de um riso de cumplicidade", explica o diretor.
Para mostrar as faces e as difusões nos relacionamentos, Baal
assume diferentes figuras: um padre interesseiro, uma mulher submissa, um atravessador etc.
A linearidade dos fragmentos,
de acordo com o diretor, se encontra dividida em dois momentos, que traçam também um perfil
da obra e vida de Brecht: um capitalista e outro socialista.
"A divisão é clara. Há por
exemplo o fragmento de um jantar. Num primeiro ato há mesa
farta, público selecionado e bem
trajado. Depois, no resgate da
mesma cena, observa-se uma
grande quantidade de pessoas,
em volta de uma mesa que traz
apenas um bife."
Ao som de músicas fúnebres de
diferentes culturas, "Maligno
Baal, o Associal" dispõe o elenco
sobre uma faixa de pedestre, pela
qual as ações se desenvolvem sob
os olhares do público, posicionado dos dois lados.
"A faixa de segurança dá o sentido de contrariedade, limite, segurança, desrespeito, risco e medo. O público, além de observar
os personagens, consegue se ver
do outro lado", explica Aurélio.
O desfecho da autocrítica se dá
com Baal na pele de um poeta, o
próprio Brecht, que acabou de ser
demitido pelo Estado.
Peça: Maligno Baal, O Associal
Direção: Márcio Aurélio
Quando: estréia hoje, 21h; sábado, às
21h, e domingo, às 20h; até 27 de
setembro
Onde: Tusp - Teatro da Universidade de
São Paulo (r. Maria Antonia, 294, tel.
255-5538)
Quanto: R$ 12
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