São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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TEATRO
Sob a direção de Márcio Aurélio, a Cia. Razões Inversas encena "Maligno Baal, o Associal", que estréia hoje
Peça provoca o riso da cumplicidade

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
free-lance para a Folha

O autor alemão Bertolt Brecht, que morreu em 1956, chegou aos palcos brasileiros em 1958, com "A Alma Boa de Setsuan", e desde então se consolidou com montagens consagradas de Antonio Abujamra, Cacá Rosset, José Celso Martinez Corrêa, Augusto Boal e Flávio Rangel.
Agora é a vez do diretor Márcio Aurélio, que traz a São Paulo a peça "Maligno Baal, O Associal", baseada em 27 fragmentos do autor alemão escritos entre 1930 e 1954.
Os textos, traduzidos por Ingrid Koudela, são uma autocrítica do autor, mesclando obra e análise pessoal.
O espetáculo leva à cena a Cia. Razões Inversas (de "Senhorita Else") em uma série de fragmentos que tratam da associabilidade e dos conflitos nas relações humanas.
O fio condutor de cada uma das passagens é Baal, o primeiro personagem do autor, criado entre 1918 e 1919, que é resgatado sob nova visão, menos instintiva, mais irônica e consciente.
"A montagem traz um pouco da linguagem de revista. São cerca de 30 esquetes que abordam as dificuldades em um relacionamento ou diante de uma situação, mostrando ao público referenciais de seu cotidiano, levando-o ao riso e reconhecimento. Qualquer um pode ser Baal, por isso trata-se de um riso de cumplicidade", explica o diretor.
Para mostrar as faces e as difusões nos relacionamentos, Baal assume diferentes figuras: um padre interesseiro, uma mulher submissa, um atravessador etc.
A linearidade dos fragmentos, de acordo com o diretor, se encontra dividida em dois momentos, que traçam também um perfil da obra e vida de Brecht: um capitalista e outro socialista.
"A divisão é clara. Há por exemplo o fragmento de um jantar. Num primeiro ato há mesa farta, público selecionado e bem trajado. Depois, no resgate da mesma cena, observa-se uma grande quantidade de pessoas, em volta de uma mesa que traz apenas um bife."
Ao som de músicas fúnebres de diferentes culturas, "Maligno Baal, o Associal" dispõe o elenco sobre uma faixa de pedestre, pela qual as ações se desenvolvem sob os olhares do público, posicionado dos dois lados.
"A faixa de segurança dá o sentido de contrariedade, limite, segurança, desrespeito, risco e medo. O público, além de observar os personagens, consegue se ver do outro lado", explica Aurélio.
O desfecho da autocrítica se dá com Baal na pele de um poeta, o próprio Brecht, que acabou de ser demitido pelo Estado.


Peça: Maligno Baal, O Associal Direção: Márcio Aurélio
Quando: estréia hoje, 21h; sábado, às 21h, e domingo, às 20h; até 27 de setembro Onde: Tusp - Teatro da Universidade de São Paulo (r. Maria Antonia, 294, tel. 255-5538) Quanto: R$ 12



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