São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

Índice

DANÇA

Companhia norte-americana apresenta microcosmo de tipos humanos que ressoa na diversidade dos movimentos

Bill T. Jones coreo grafa vibra ção dos gestos

Divulgação
Cena de coreografia da companhia norte-americana Bill T. Jones, que faz sua última apresentação na cidade hoje, no teatro Alfa


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Os ombros, as mãos, as pernas, a cabeça: cada parte do corpo é um instrumento sensível de uma orquestra que vibra no espaço. A dança de Bill T. Jones articula seu próprio vocabulário, combinando fontes variadas. É uma linguagem refinada e inovadora, provocativamente homoerótica, intensamente pessoal.
Nesta temporada, a companhia apresenta quatro coreografias. "Power/Full" justifica o trocadilho do título: "powerful", poderosa, e "full power", com toda força. A poderosa síntese dos movimentos, aliada à economia dos meios, tem seu exemplo máximo no gigante black, Germaul Barnes. Seu corpo se desmonta em contraponto à vibração dos gestos, num palco redesenhado geometricamente por quadrados e retângulos de luz, que vibram também com a dança. Barnes move-se em ressonância com cinco bailarinos. Pequenos cânones vão se sucedendo, num tempo que se expande, mas não dura nunca mais do que alguns segundos. Força total.
Já em "Verbum", com música de Beethoven (o "Quarteto" op. 135), Jones cria padrões e frases que se repetem ao longo de toda a coreografia, como os motivos e temas da música. Merece destaque o solo da bailarina Toshiko Oiwa. Seu corpo preenche os vazios da música, criando outra música no espaço.
"Black Suzanne" tira o nome de uma flor típica dos EUA. Ela aparece no fundo do palco, como uma margarida. No centro, no chão, um quadrado vermelho, sugerindo um ringue, onde os bailarinos entram e de onde saem. Os corpos se atraem e sustentam pela técnica de contato-e-improvisação. Exemplo: um enorme homem branco deita sobre as costas de uma pequena mulher negra, que gira com seu corpo no espaço. A dança atlética tem força de grupo, ganhando cada vez mais densidade sobre o quadrado.
"Some Songs" foi vista no Brasil em 1997. A coreografia, sobre música do cantor e compositor francês Jacques Brel, salienta as tramas e destramas pessoais: trios, duos e solos compõem uma geometria cênica original, que só tem a ganhar com a diversidade dos tipos e dos figurinos.
Poderia ser um emblema da companhia: Bill T. Jones traz mesmo à cena um microcosmo de tipos humanos. Os 11 bailarinos, na sua diversidade, compõem, a seu modo, um mapa humano. Seria banal, se a diversidade não estivesse presente nos movimentos -o que, no caso, faz toda a verdadeira diferença.


Bill T. Jones     
Onde: teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. 5693-4000)
Quando: hoje, às 21h
Quanto: de R$ 45 a R$ 110




Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.