São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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Arte lá em casa

Tendência nas grandes cidades do mundo, São Paulo ganha espaços culturais alternativos e experimentais em casas, galpões e apartamentos

Fotos Rodrigo Capote/Folha Imagem
Espaço de colecionadores na Líbero Badaró, no centro

FERNANDA MENA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Tem duplo sentido o cartaz que diz "aluga-se" na entrada de um casarão perto da praça Panamericana, em São Paulo.
Ainda à espera de novos moradores, o espaço tem artistas como inquilinos-relâmpago. Eles escondem projeções de vídeo na despensa, criam um lago artificial e até plantam batatas no banheiro.
"É um novo formato de exposição", diz Yara Dewachter, que organizou a mostra "Aluga-se" na mansão vazia que pertence à família de seu marido.
Tendência em Nova York e outras capitais do mundo onde o circuito tradicional de artes visuais -museus e galerias- já não dá conta de toda a produção local, uma rede alternativa também desponta em SP.
São espaços expositivos em galpões industriais, garagens, porões esquecidos, casas e prédios vagos no centro da cidade.
Se, por um lado, a cena é uma válvula de escape para uma produção artística, por outro serve para reabilitar espaços mortos na malha urbana. Outra consequência, intencional ou não, é inflar o valor de imóveis encalhados, como o casarão no Alto de Pinheiros, que passou anos fechado e sem ninguém.
Depois de reformar um apartamento modernista na avenida São Luís, que recebeu uma exposição coletiva para marcar o fim das obras, o empresário Henrique Miziara acaba de comprar uma sala no edifício Califórnia, obra de Oscar Niemeyer e Carlos Lemos, no centro, que transformou em ateliê. Já passaram por lá mostras de Keila Alaver, Mônica Rizzolli e, por último, Célio Braga.
"A ideia é que todo mundo possa pedir para ocupar esse espaço", diz Miziara. "Não quero que isso fique fechado."
Além de visitar o espaço, é possível acompanhar as montagens e obras pelo blog www.ateliedabarao.com.
No mesmo espírito, dois colecionadores compraram um andar de um prédio de Ramos de Azevedo na r. Líbero Badaró para expor seu acervo pessoal.
Inauguraram o espaço no mês passado com uma individual do artista Sandro Akel -a exposição agora migrou para a galeria do artista, a Mendes Wood, nos Jardins, mas logo outras mostras ocuparão o loft neoclássico.
Mais acanhado, o porão de uma casa na Vila Mariana virou QG de um grupo de artistas. Batizado de Beco das Artes, o porão vêm recebendo séries de mostras e debates há um ano.
"Esse porão estava jogado às traças", lembra Gustavo Ferro, um dos líderes do Beco. "A gente ressignificou o espaço, é a ideia de arte no contexto da metrópole cheia de espaços abandonados", diz Nei Franclin, outro artista do grupo.
A ideia de cuidado com o espaço interno e público também está por trás do projeto Matilha Cultural, que reúne exposições, shows, palestras e cinema independentes e sem fins lucrativos, que versam sobre temas sócio-ambientais e urbanos.
O espaço, que agora expõe os grafites de Binho Ribeiro, promove todo primeiro sábado do mês o "Vagaviva", projeto que ocupa o meio-fio em frente ao galpão com arte. "Queremos ser uma terceira via", diz a diretora do espaço, Rebeca Lerer.
Na Vila Mariana, uma dupla de arquitetos criou há um ano a Casa Contemporânea, sobrado dos anos 40 que transformaram em ateliê e espaço expositivo. Está em cartaz agora uma individual do artista Rogério Pinto e debates acontecem quase toda semana.
Outro espaço, a Casa Tomada, tenta refletir sobre as práticas artísticas. O sobrado no bairro da Aclimação, transformado em ateliê e biblioteca, tem editais para selecionar seus ocupantes.
Tainá Azeredo e Thereza Farkas, idealizadoras do projeto, escalam artistas e curadores para uma residência que vira exposição. Tudo está em www.casatomada.com.br.


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