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Arte lá em casa
Tendência nas grandes cidades do mundo, São Paulo ganha espaços culturais alternativos e experimentais em casas, galpões e apartamentos
Fotos Rodrigo Capote/Folha Imagem
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Espaço de colecionadores na Líbero Badaró, no centro
FERNANDA MENA
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Tem duplo sentido o cartaz
que diz "aluga-se" na entrada
de um casarão perto da praça
Panamericana, em São Paulo.
Ainda à espera de novos moradores, o espaço tem artistas
como inquilinos-relâmpago.
Eles escondem projeções de vídeo na despensa, criam um lago
artificial e até plantam batatas
no banheiro.
"É um novo formato de exposição", diz Yara Dewachter, que
organizou a mostra "Aluga-se"
na mansão vazia que pertence à
família de seu marido.
Tendência em Nova York e
outras capitais do mundo onde
o circuito tradicional de artes
visuais -museus e galerias- já
não dá conta de toda a produção local, uma rede alternativa
também desponta em SP.
São espaços expositivos em
galpões industriais, garagens,
porões esquecidos, casas e prédios vagos no centro da cidade.
Se, por um lado, a cena é uma
válvula de escape para uma
produção artística, por outro
serve para reabilitar espaços
mortos na malha urbana. Outra
consequência, intencional ou
não, é inflar o valor de imóveis
encalhados, como o casarão no
Alto de Pinheiros, que passou
anos fechado e sem ninguém.
Depois de reformar um apartamento modernista na avenida São Luís, que recebeu uma
exposição coletiva para marcar
o fim das obras, o empresário
Henrique Miziara acaba de
comprar uma sala no edifício
Califórnia, obra de Oscar Niemeyer e Carlos Lemos, no centro, que transformou em ateliê.
Já passaram por lá mostras de
Keila Alaver, Mônica Rizzolli e,
por último, Célio Braga.
"A ideia é que todo mundo
possa pedir para ocupar esse
espaço", diz Miziara. "Não quero que isso fique fechado."
Além de visitar o espaço, é
possível acompanhar as montagens e obras pelo blog
www.ateliedabarao.com.
No mesmo espírito, dois colecionadores compraram um
andar de um prédio de Ramos
de Azevedo na r. Líbero Badaró
para expor seu acervo pessoal.
Inauguraram o espaço no
mês passado com uma individual do artista Sandro Akel -a
exposição agora migrou para a
galeria do artista, a Mendes
Wood, nos Jardins, mas logo
outras mostras ocuparão o loft
neoclássico.
Mais acanhado, o porão de
uma casa na Vila Mariana virou
QG de um grupo de artistas. Batizado de Beco das Artes, o porão vêm recebendo séries de
mostras e debates há um ano.
"Esse porão estava jogado às
traças", lembra Gustavo Ferro,
um dos líderes do Beco. "A gente ressignificou o espaço, é a
ideia de arte no contexto da
metrópole cheia de espaços
abandonados", diz Nei Franclin, outro artista do grupo.
A ideia de cuidado com o espaço interno e público também
está por trás do projeto Matilha
Cultural, que reúne exposições,
shows, palestras e cinema independentes e sem fins lucrativos, que versam sobre temas
sócio-ambientais e urbanos.
O espaço, que agora expõe os
grafites de Binho Ribeiro, promove todo primeiro sábado do
mês o "Vagaviva", projeto que
ocupa o meio-fio em frente ao
galpão com arte. "Queremos
ser uma terceira via", diz a diretora do espaço, Rebeca Lerer.
Na Vila Mariana, uma dupla
de arquitetos criou há um ano a
Casa Contemporânea, sobrado
dos anos 40 que transformaram em ateliê e espaço expositivo. Está em cartaz agora uma
individual do artista Rogério
Pinto e debates acontecem
quase toda semana.
Outro espaço, a Casa Tomada, tenta refletir sobre as práticas artísticas. O sobrado no
bairro da Aclimação, transformado em ateliê e biblioteca,
tem editais para selecionar
seus ocupantes.
Tainá Azeredo e Thereza
Farkas, idealizadoras do projeto, escalam artistas e curadores
para uma residência que vira
exposição. Tudo está em
www.casatomada.com.br.
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