São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

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Crítica/"Querido John"

Diretor fracassa em drama açucarado

ALEXANDRE AGABITI
FERNANDEZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A dupla amor e guerra tem grande tradição cinematográfica, atestam dezenas de clássicos -de "A Um Passo da Eternidade" (1953), de Fred Zinnemann, a "Hiroshima Meu Amor" (1959), de Alain Resnais. "Querido John" fala de guerra e de amor, mas não entrará nessa lista de grandes obras.
O sueco Lasse Hallström tem certa competência para encenar o romanesco e manejar a emoção, mas fracassa estrepitosamente neste drama. Além do convencionalismo da narrativa -"encontro, separação, escolha moral, reencontro"-, o filme exagera nos infortúnios ao alinhar casos de autismo, câncer terminal, 11 de Setembro e guerra no Afeganistão.
Abusa do sentimentalismo e escamoteia qualquer discurso sobre o Exército ou a presença militar americana em zonas de conflito na Ásia ou na África.
Tudo embalado por melodias açucaradas.
Pouco antes de partir novamente em missão, o soldado John Tyree (Channing Tatum) conhece a rica Savannah Curtis (Amanda Seyfried). Apesar de pertencerem a mundos diferentes, se apaixonam. Duas semanas depois, se separam trocando juras de amor: ela volta à universidade, ele, ao combate.
Uma intensa troca de cartas mantém a chama viva, mas, é claro, há reviravoltas.
John é taciturno, caladão, mas boa-praça. Quando não está no Exército, vive com o pai, um misantropo colecionador de moedas. A patricinha Savannah é idealista, cheia de altruísmo pelos desfavorecidos e sofredores. Um perfil que não convence. O casal também não convence, faltam química entre eles e carisma aos atores.
Como todo dramalhão, o objetivo é fazer o espectador chorar, mas o filme acaba por entediá-lo com a crônica da América sulista, onde moças recatadas passam o verão construindo casas para os desvalidos, enquanto rapazes partem para campos de batalha imbuídos do ideal de defender a liberdade.
A overdose de bons sentimentos e de miserabilismo só comove as mais simplórias adolescentes e funciona como veículo para um aspecto aparentemente secundário: a propaganda militarista.


QUERIDO JOHN

Avaliação: ruim



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