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TEATRO
"Jung, Sonhos de uma Vida", "Divã" e "Segredo" usam base em legado de Freud para enveredar pelos mistérios da alma
Cidade reúne espetáculos "psicológicos"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Pode soar redundante buscar
um extrato psicológico no teatro
quando é de sua natureza desmascarar humanidades em comédias, dramas, tragédias e variantes. Mas a temporada atual
apresenta pelo menos três peças
que se aproximam dos ditos mistérios da alma à moda do legado
de Sigmund Freud (1856-1939).
O espectador se depara com a
vida de um grande discípulo e dissidente de Freud em "Jung, Sonhos de uma Vida", em cartaz no
Espaço Promon; compartilha revisões pessoais de uma mulher
em plena crise dos 40 anos em
"Divã", no teatro Faap; e vê o depoimento pessoal dos 17 atores de
"Segredo", no Tusp (veja ao lado).
Segundo o ator Jayme Periard,
44, no papel-título de Jung, a intenção é "mostrar o homem em
suas contradições e buscas, não só
científicas, mas espirituais, já que
na infância ele teve experiências
mediúnicas". A tônica é de uma
pessoa simples, amante das artes
e de outras ciências.
O psiquiatra suíço Carl Gustav
Jung (1875-1961) desenvolveu,
com Freud, as primeiras teorias
psicológicas fundamentadas no
inconsciente. A dramaturgia é assinada pela psicóloga e escritora
Eliana Zuckermann, que tomou
como base o livro "Memórias, Sonhos e Reflexões", de Jung.
O ponto de partida é uma entrevista que Jung concedeu aos 86
anos, a idade em que morreu. A
conversa com uma jornalista o leva à relação com os pais, pacientes
e as mulheres que amou (a mãe, a
mulher, a amante e a filha).
Em busca de casar palavra e
emoção, o diretor Rogério Fabiano pretende colocar em primeiro
plano atitudes ou sentimentos como coragem, inteligência e sensibilidade. Em sua opinião, não é
preciso entender de psicanálise
para compreender o espetáculo.
Em "Divã", Lilia Cabral vive
Mercedes, a protagonista do romance de mesmo nome da gaúcha Martha Medeiros. Trata-se de
uma quarentona casada, com
dois filhos, vida estabilizada, que
resolve procurar um analista.
A curiosidade transforma-se
numa experiência devastadora.
Surgem várias faces dela: a discreta, a apaixonada, a ciumenta, a
sensual etc. Somam-se as figuras
do marido e da melhor amiga, como a sugerirem contrapontos.
Em "Segredo", o grupo Tusp
apresenta a sua terceira incursão
pelos quatro elementos: "Horizonte" (2000) elegeu a água; "Interior" (2002), a terra. Agora, o ar
serve à metáfora daquilo que está
"invisível". O elemento fogo terá
lugar em projeto para 2006.
Histórias vividas pelos atores
costuram a dramaturgia, uma sucessão de quadros que tratam de
amor, fé, sexualidade, família,
violência, solidão e esperança.
"Não se trata de expor a intimidade das pessoas como fenômeno
contemporâneo de comunicação", diz o diretor Abílio Tavares.
Ele quer dar conta dos sentimentos mais profundos das pessoas,
despertando nelas o desejo de
mudança. O grupo contou com assessoria terapêutica e fez um retiro na serra da Mantiqueira.
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