SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Nunca mais a cidade de Lençóis (BA), na Chapada Diamantina, foi a mesma depois que passou por lá a equipe de realização do longa "Diamante Bruto" (1977), escrito e dirigido por Orlando Senna, atual secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, a partir do romance "Bugrinha" (1922), de Afrânio Peixoto (1876-1947).
Esse é o ponto principal do documentário "Brilhante", que reconstitui as circunstâncias de filmagem e reencontra o lugar, quase duas décadas depois, profundamente transformado.
A viagem de retorno lembra um pouco a de "Cabra Marcado para Morrer" (1984), de Eduardo Coutinho, mas com resultado bem diverso.
Ficção com um pé no documentário, "Diamante Bruto" trazia José Wilker no papel de um astro de telenovelas que volta à cidade natal e, tratado como um semideus, se envolve com a filha de um garimpeiro (a estreante Gilda Ferreira).
Boa parte de Lençóis participou das filmagens. "É mais ou menos um documentário, né?
Ao menos eu entendi assim", diz uma mulher, após a primeira exibição de "Diamante" para a comunidade, em referência aos rostos e locais familiares.
O quarto longa de Orlando Senna como diretor -e o primeiro liberado pela censura do regime militar- era apresentado como uma proposta de "cinema popular". No documentário, a diretora Conceição Senna (que trabalhou em "Diamante" como atriz) sublinha esse aspecto inovador ao costurar depoimentos de moradores e de integrantes da equipe.
O saudosismo extraído dessas lembranças se mistura, à medida que a cidade de hoje se apresenta, com a amargura de constatar os efeitos nocivos do turismo e a criação de guetos de miséria na periferia. Alguém diz que seria preciso rodar outro longa na cidade para revitalizá-la, mas o sentimento geral é de que melhor mesmo talvez fosse voltar aos tempos de "Diamante Bruto".

BRILHANTE   
Direção: Conceição Senna
Produção: Brasil, 2005