São Paulo, sábado, 10 de janeiro de 2009

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Crítica/"Alguém que Me Ame de Verdade"

Drama sobre judia e muçulmana tem boas intenções, mas falha como cinema

Divulgação
Zoe Lister Jones e FrancisBenhamou em "Alguém que Me..."

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

No momento em que a atenção mundial se volta para a ofensiva militar de Israel sobre a Faixa de Gaza, pega mal para qualquer crítico de cinema que diminua a importância de um filme com mensagens pacifistas como "Alguém que Me Ame de Verdade". Fica até parecendo que falar mal deste drama é ser a favor da guerra.
Ao lado de longas em cartaz na cidade como "Lemon Tree", que aborda diretamente os dois lados, e "Um Homem Bom" e "O Menino do Pijama Listrado", que abordam o Holocausto, "Alguém que Me Ame de Verdade" é mais veículo para um discurso específico do que cinema propriamente dito.
Temos aqui a história de duas mulheres que vão lecionar crianças em uma escola pública em Nova York: a judia ortodoxa Rochel e a muçulmana Nasira. Elas têm muito em comum: são jovens, respeitam as tradições e não demonstram maiores preconceitos contra pessoas de outras religiões. Mas as duas sofrem, já que estão sendo pressionadas por suas famílias a arranjarem logo um noivo.
A moral da história é clara e vem antes de tudo. Mesmo sendo diferentes, com crenças distintas, elas vão provar que podem conviver e ser amigas.
E por que classificar o filme como "ruim", já que na questão moral o filme é "bom"?
Do ponto de vista cinematográfico, "Alguém..." comete vários deslizes. Um deles, o mais básico, é notar que a mensagem vem antes de tudo. Ou seja, os personagens são colocados ali apenas para representar ideias ou grupos sociais específicos.
Portanto, quando alguém abre a boca ou faz algo, é apenas como símbolo de uma coletividade. São personagens sem vida própria, inverossímeis, ainda que os diretores, Diane Crespo e Stefan C. Schaefer, tentem disfarçar. Não há espaço para o espectador pensar.
Mesmo no aspecto da mensagem, há o que se questionar, já que o final deixa uma sensação dúbia no ar, de falsa integração entre os diferentes.
Avaliação: ruim


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