São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 2010

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Crítica/ "Bons Costumes"

Tom conservador estraga filme

Ambientada nos anos 20, comédia mostra choque cultural entre jovem americana e sogra inglesa

Divulgação
Larita (Jessica Biel) é a americana casada com o inglês John (Ben Barnes) em "Bons Costumes"

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Como dois modelos triunfantes de civilização, separados por um oceano e unidos pela língua comum, os EUA e a Inglaterra adoram se exibir como se fossem filho e pai em desajuste geracional. Após a independência, a antiga colônia e sua ex-metrópole guardaram a cordialidade política e transferiram para a ficção a tarefa de representar suas diferenças traduzidas nos estereótipos da modernidade e da tradição.
Desses contrastes se alimenta a proposta de "Bons Costumes", ambientado nos anos 20, no qual as duas culturas se opõem por intermédio da disputa entre a ligeireza americana de Larita (Jessica Biel) e sua intratável sogra britânica (Kristin Scott Thomas). Logo após o casamento impulsivo com o único filho homem (Ben Barnes) da família Whittaker, Larita desembarca na mansão e descobre que terá de encarar o peso de antigos valores.
Baseado numa peça do dramaturgo britânico Noel Coward (escrita em 1924 e já adaptada antes por Alfred Hitchcock bem no início de sua carreira, em 1928), o filme busca preservar a ênfase iconoclasta com que Coward tratava o que ainda sobrava da soberania inglesa de sua época.
Trata-se, como nos filmes de gênero de James Ivory, de retratar uma sociedade ainda não liberada da soberba de antigo império, em momento próximo da extinção, e cega à ultrapassagem histórica da Europa que se processava no intervalo entre as Grandes Guerras.
Como aponta o título, a crônica social visa esse retardamento pela ótica dos costumes, com a velha nobreza associada à ostentação e aos valores caducos, enquanto a nova ordem é representada pela velocidade (Larita pilota automóveis), pela leveza dos figurinos e pelo corpo cheio de curvas de Biel.
A origem teatral, no entanto, rica em diálogos cortantes e com a ação concentrada no espaço da propriedade dos Whittaker, leva o filme a exigir de seu elenco mais do que ele consegue (ou está disposto) a dar. De um lado, Biel empresta sem esforço sua gostosura à inadequação de Larita, mas, quando a situação exige densidade, só lhe resta buscar apoio dramático com um cigarro nas mãos. De outro, Thomas e Colin Firth cumprem seus contratos sem parecer estar minimamente interessados em dar um pouco de sangue aos personagens.
Já o tratamento luxuoso e sem distância irônica com que a direção quadrada de Stephan Elliott mira o passado esvazia qualquer resíduo crítico da farsa de Coward, engarrafando os temas do dramaturgo num mausoléu no qual, mais do que a história, é o próprio filme que soa anacrônico.


Avaliação: regular


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