São Paulo, quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Próximo Texto | Índice

Crítica/"Arte e Espiritualidade"

Mostra potencializa convento

Uchôa, Spaniol e Giannotti ocupam com competência e abrangência o Mosteiro de São Bento, em SP

Angela Magdalena/ Divulgação
Capela do Mosteiro de São Bento, que traz "Redenção", instalação de Uchôa com bíblias nos bancos e a exibição de um vídeo

DA REPORTAGEM LOCAL

Numa megalópole com intensa vida cultural como São Paulo, poucas são as ações que buscam disseminar a arte fora dos parâmetros institucionais de museus e galerias. Uma das poucas e relevantes experiências nesse sentido foi o projeto Arte/Cidade, que teve início em 1994, contou com poucas edições, e desde 2002 já não ocorre mais na cidade.
Mesmo assim, as experiências de suas três edições são paradigmas desses raros momentos em que a arte e a cidade alcançaram diálogos memoráveis. "Arte e Espiritualidade", em cartaz no Mosteiro de São Bento, no centro da cidade, resgata essa experiência da ocupação de locais conhecidos que são potencializados por meio da intervenção artística. Organizada pelos artistas Carlos Eduardo Uchôa, José Spaniol e Marco Giannotti, a mostra foi viabilizada por meio do edital Arte e Patrimônio, uma ótima iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A primeira observação é que, ao contrário do que aparenta, o mosteiro é um lugar extremamente vivo, graças à existência do Colégio São Bento, que lá funciona e cede muitas de suas salas para a exposição. Com isso, a visita à mostra, que pela temática possui um tom introspectivo, é animada pelo som das crianças jogando no pátio, conversando pelos corredores, que até então não eram abertos ao público em geral.
O desafio de ocupação do mosteiro, repleto de memórias, também é cumprido de forma competente pelos artistas. No térreo, Spaniol faz intervenções nos parlatórios, as salas para conversas entre religiosos e leigos. Em algumas, Spaniol suspende objetos, em outras instala lousas apagadas ou mesmo balanças com letras. Em cada sala, trabalha-se com metáforas do diálogo, ascensão e meditação, características desses espaços, sem, no entanto, ser ilustrativo, evitando um risco que uma exposição de tal tipo poderia ocasionar. Em outros andares, Spaniol faz intervenções semelhantes. Também no primeiro andar, mas no teatro, Spaniol e Giannotti apresentam "Vigília", uma instalação composta por velas acesas cujas imagens são projetadas no palco, trabalhando a ideia de representação, um dos melhores trabalhos da exposição.
No percurso, seguem-se salas com pinturas de Uchôa e de Giannotti, em geral em salas separadas, ambos com uma temática abstrata, apesar de algumas delas seguirem temas religiosos, como os 14 passos da Paixão de Cristo.
Outro ponto alto da mostra é que a ocupação do mosteiro não ocorre de forma tímida, mas abrange muitas salas, 16 no total, entre elas a biblioteca, com vídeos de Uchôa, artista que também se ocupa da capela. É lá que se encontram a instalação "Redenção" e o vídeo "Cracolândia/Consolação/ Paulista", com imagens da cidade sendo projetadas no altar da capela, quando a relação arte e cidade ganha maior intensidade.
(FABIO CYPRIANO)


ARTE E ESPIRITUALIDADE

Onde: Mosteiro São Bento (lgo. São Bento, s/n, tel. 0/xx/11/3328-8799)
Quando: de ter. a sex., das 13h às 17h (com agendamento), sáb. e dom., das 10h às 17h; até 21/2
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo




Próximo Texto: Música: Guitarristas tocam clássicos do blues
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.