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Crítica/"Arte e Espiritualidade"
Mostra potencializa convento
Uchôa, Spaniol e Giannotti ocupam com competência e abrangência o Mosteiro de São Bento, em SP
Angela Magdalena/ Divulgação
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Capela do Mosteiro de São Bento, que traz "Redenção", instalação de Uchôa com bíblias nos bancos e a exibição de um vídeo
DA REPORTAGEM LOCAL
Numa megalópole com intensa vida cultural como São
Paulo, poucas são as ações que
buscam disseminar a arte fora
dos parâmetros institucionais
de museus e galerias. Uma das
poucas e relevantes experiências nesse sentido foi o projeto
Arte/Cidade, que teve início
em 1994, contou com poucas
edições, e desde 2002 já não
ocorre mais na cidade.
Mesmo assim, as experiências de suas três edições são paradigmas desses raros momentos em que a arte e a cidade alcançaram diálogos memoráveis. "Arte e Espiritualidade",
em cartaz no Mosteiro de São
Bento, no centro da cidade, resgata essa experiência da ocupação de locais conhecidos que
são potencializados por meio
da intervenção artística. Organizada pelos artistas Carlos
Eduardo Uchôa, José Spaniol e
Marco Giannotti, a mostra foi
viabilizada por meio do edital
Arte e Patrimônio, uma ótima
iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A primeira observação é que,
ao contrário do que aparenta, o
mosteiro é um lugar extremamente vivo, graças à existência
do Colégio São Bento, que lá
funciona e cede muitas de suas
salas para a exposição. Com isso, a visita à mostra, que pela
temática possui um tom introspectivo, é animada pelo som
das crianças jogando no pátio,
conversando pelos corredores,
que até então não eram abertos
ao público em geral.
O desafio de ocupação do
mosteiro, repleto de memórias,
também é cumprido de forma
competente pelos artistas. No
térreo, Spaniol faz intervenções nos parlatórios, as salas
para conversas entre religiosos
e leigos. Em algumas, Spaniol
suspende objetos, em outras
instala lousas apagadas ou mesmo balanças com letras. Em cada sala, trabalha-se com metáforas do diálogo, ascensão e
meditação, características desses espaços, sem, no entanto,
ser ilustrativo, evitando um risco que uma exposição de tal tipo poderia ocasionar. Em outros andares, Spaniol faz intervenções semelhantes.
Também no primeiro andar,
mas no teatro, Spaniol e Giannotti apresentam "Vigília",
uma instalação composta por
velas acesas cujas imagens são
projetadas no palco, trabalhando a ideia de representação, um
dos melhores trabalhos da exposição.
No percurso, seguem-se salas
com pinturas de Uchôa e de
Giannotti, em geral em salas separadas, ambos com uma temática abstrata, apesar de algumas delas seguirem temas religiosos, como os 14 passos da
Paixão de Cristo.
Outro ponto alto da mostra é
que a ocupação do mosteiro
não ocorre de forma tímida,
mas abrange muitas salas, 16 no
total, entre elas a biblioteca,
com vídeos de Uchôa, artista
que também se ocupa da capela. É lá que se encontram a instalação "Redenção" e o vídeo
"Cracolândia/Consolação/
Paulista", com imagens da cidade sendo projetadas no altar da
capela, quando a relação arte e
cidade ganha maior intensidade.
(FABIO CYPRIANO)
ARTE E ESPIRITUALIDADE
Onde: Mosteiro São Bento (lgo. São
Bento, s/n, tel. 0/xx/11/3328-8799)
Quando: de ter. a sex., das 13h às 17h
(com agendamento), sáb. e dom., das
10h às 17h; até 21/2
Quanto: entrada franca
Avaliação: ótimo
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