São Paulo, segunda-feira, 10 de julho de 2006

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"A tecnologia é como uma faca", diz Fernando Birri

Diretor argentino, precursor do atual cinema do continente, abre festival em SP dedicado a filmes da América Latina

De hoje a domingo, evento gratuito apresentará 129 filmes, entre ficção e documentários, em três espaços da cidade


Divulgação
Cena de "Tire Dié", em que Birri retrata crianças que pedem esmolas em Santa Fé, na Argentina


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

As longas barbas brancas podem dar a Fernando Birri um certo ar de Antônio Conselheiro. Mas quem pensa que esse veterano cineasta argentino torce o nariz para as modernidades está enganado. "A tecnologia é como uma faca. Pode servir para esfaquear alguém, mas também para cortar um pão", disse com sua fala pausada e voz rouca, em entrevista à Folha, por telefone, de Roma.
Aos 81 anos, o diretor, que é um dos precursores tanto do cinema latino-americano contemporâneo como das suas tentativas de integração, diz estar de olho no que os jovens diretores estão fazendo. "Seguramente são mais profissionais e rigorosos, mas têm de saber que as facilidades tecnológicas de hoje devem ser usadas a serviço de um novo futuro social", disse, com tom de artista engajado e professoral.
Na abertura da primeira edição do Festival de Cinema Latino-Americano, hoje, no Memorial da América Latina, em SP (para convidados), Birri apresentará "ZA 2005, o Velho e o Novo" -o filme será exibido para o público amanhã.
A produção é um grande videoclipe em que o diretor reuniu cenas escolhidas por ele de filmes latino-americanos novos e antigos. "Vidas Secas" (1963), do brasileiro Nelson Pereira dos Santos, abre a seleção, que tem também "Cría Cerdos" (2003), do chileno Ignacio Ceruti; "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968), de Tomás Gutiérrez Alea; "A Ópera do Malandro" (1986), do também brasileiro Ruy Guerra, e outros.
Também é "personagem" dessa montagem um dos mais importantes trabalhos do cineasta, "Tire Dié (1960), sobre as crianças que pedem esmola numa estação de trem em Santa Fé, na Argentina.
Às imagens desses filmes, Birri mistura passagens de sua própria vida como instrutor da escola de cinema de San Antonio de los Baños. "A idéia era mostrar como o cinema latino-americano foi se transformando e levantar a questão da continuidade ou não dos nossos projetos", conta. E qual a conclusão? Há continuidade? Birri responde com uma imagem e uma dúvida. "Estamos num momento de escolha, devemos tentar ver esses filmes como um diálogo de espelhos, em que um reflete o outro, e não imagens individuais. Se não conseguimos enxergar isso, é porque não houve seqüência."
Para ele, pessoalmente, há muito em comum entre os filmes de ontem e de hoje. Principalmente os temas. "A pobreza, a violência e o preconceito continuam aparecendo, porque continuam sendo os temas da América Latina", diz o diretor.

O festival
A programação do evento se desenrola de amanhã até domingo, dia 16 de julho, em três espaços da cidade (Memorial da América Latina, Cinesesc e sala Cinemateca). Todos os filmes têm exibição gratuita, mas os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. Mais informações podem ser obtidas no site www.festlatinosp.com.br.


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