São Paulo, quinta-feira, 10 de setembro de 2009 |
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Amy Arbus vai atrás de gente que quer ser lembrada
Fotógrafa filha de Diane Arbus fala em São Paulo sobre seus retratos de famosos e anônimos que misturam real e ficção
SILAS MARTÍ DA REPORTAGEM LOCAL Ela relutou. Depois que a mãe, a fotógrafa Diane Arbus, se matou com uma overdose de comprimidos, afogada numa banheira, a filha Amy fugiu para a escola de música. Queria tocar jazz estilo bebop, mas quebrou os dentes da frente e desaprendeu a soprar flautas. Esqueceu o trauma e começou a fotografar, como fazia a mãe. "Queria me distinguir dela quando comecei, mas também queria fotografar pessoas", lembra Amy Arbus à Folha. "Não são escolhas intelectuais, são instintivas, é química." Arbus vai falar mais dessa química em São Paulo neste sábado, no SP Photo Fest, festival de fotografia no Museu da Imagem e do Som. E vai mostrar seus flagras nada desbotados de uma Nova York oitentista. Foi nas ruas de Manhattan que ela aprendeu a fotografar. Saía à cata de "gente que se vestia para ser lembrada". Uma de suas presas foi uma jovem, ainda desconhecida, Madonna, trajando um sobretudo desajeitado. O retrato foi parar na capa do livro "On the Street", compilação de fashionistas anônimos que Arbus publicava em coluna do "Village Voice". Num misto de ilusão e realidade, Arbus documentou a metrópole sob o que chama de efeito Reagan. "A natureza repressiva do governo teve um efeito oposto nos artistas de Nova York. Eles se vestiam de qualquer jeito e queriam demonstrar afeto em público", lembra Arbus. "A cidade já não é mais tão experimental quanto antes, há um conformismo hoje que não existia na época." Também mudou a relação com a memória fotográfica. Eram instantes privilegiados os de Arbus, no registro duro e granular da película em oposição à diluição do digital. Agora sente falta de quem posava como ícone, mesmo sendo anônimo, só para a ocasião da foto. "Meu trabalho era atemporal, porque as pessoas podiam estar vestidas assim nos anos 20, hoje ou daqui a 20 anos", descreve Arbus. "Me interesso pela androginia, algo entre o real e o que só parece real." Talvez por isso, juntou as duas coisas em seu último livro, "The Fourth Wall". Tirou do palco atores de Nova York e pôs os intérpretes na rua e nos bastidores, vestindo o figurino. Michael Cerveris e Patti LuPone, estrelas de uma montagem de "Sweeney Todd", a história do barbeiro demoníaco, aparecem como vítima e algoz, só que no saguão do teatro, antes ou depois do espetáculo. "É um retrato sombrio, entre a realidade dos famosos e seus personagens", diz Arbus. "Parecem mais relaxados por posarem dentro de um personagem e não como eles mesmos." Ela despreza, aliás, o retrato da celebridade como celebridade. "Passei toda a minha vida perto da fama, da fama de outras pessoas", lembra a filha de Diane Arbus, personagem vivida por Nicole Kidman no filme "A Pele". E diz ter aprendido com Richard Avedon, que não largava famosos, que importa menos a imagem e mais o efeito que ela terá sobre as pessoas. SP PHOTO FEST Quando: de hoje a 13/9; programação em www.spphotofest.com.br Onde: MIS (av. Europa, 158, tel. 5051-1055) Quanto: entrada franca (palestras) Próximo Texto: SP-Arte/Foto começa hoje no Iguatemi Índice |
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