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Atriz carioca vai do sol brasileiro ao Soleil francês
Juliana Carneiro da Cunha faz 7 papéis em "Os Efêmeros",
que estréia na sexta-feira em SP; ingressos estão esgotados
Intérprete fala de sua trajetória européia, que se inicia com a dança e culmina
no trabalho com a diretora Ariane Mnouchkine
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Juliana Carneiro da Cunha
coleciona poucos e memoráveis momentos na história do
teatro e do cinema brasileiros
-pôde ser vista pelo público
nacional em trabalhos como
como a peça "As Lágrimas
Amargas de Petra von Kant"
(1982), de Rainer Werner Fassbinder, em que contracenava
com Fernanda Montenegro, ou
o filme "Lavoura Arcaica"
(2001), de Luiz Fernando Carvalho, ao lado de Raul Cortez.
Chegou a hora de conhecer a
Juliana Carneiro da Cunha que
interpreta em francês há 17
anos no Théâtre du Soleil. A
companhia está no Brasil pela
primeira vez e é das mais admiradas no cenário internacional,
dirigida por Ariane Mnouchkine há 43 anos.
O espetáculo "Os Efêmeros"
(Les Éphémères), de 2006, passou pelo festival Porto Alegre
em Cena e estréia em São Paulo
depois de amanhã, na futura
unidade do Sesc Belenzinho,
com ingressos esgotados -está
em negociação uma data extra,
provavelmente no dia 24.
"Sempre pensei que, quando
o Théâtre du Soleil fosse ao
Brasil, causaria um impacto
produtivo. É um teatro único,
que está de pé há mais de 43
anos e que mantém suas leis,
suas regras de base claras", diz
Cunha, 58 anos. "Porque costuma acontecer dessas utopias e
ideais durarem quatro, cinco
anos, não mais." Ela conversou
com a Folha em julho, no final
de uma das sessões no Festival
de Avignon, no sul da França.
Do Sumaré à Bélgica
Nascida no Rio e criada em
São Paulo, Juliana Carneiro da
Cunha cumpriu uma odisséia
genuína pelo mundo das artes
cênicas. Aprendeu os primeiros
passos de dança aos 7 anos, em
aulas com a professora húngara
Maria Duschenes, sua vizinha
no bairro paulistano Sumaré.
Dez anos depois, partiu para
estudos na Europa, emancipada aos 17 anos para viver na Alemanha e na Bélgica, onde integrou a primeira turma da escola
de Maurice Béjart, o Mudra, ao
lado da francesa Maguy Marin.
Participou de coreografias e
montagens teatrais do circuito
independente europeu, mas
voltou ao seu país em 1978,
quando ficou grávida de Mateus. Em seguida, nasceu Joana. Eles são franco-brasileiros e
hoje se dedicam, respectivamente, à literatura e ao cinema.
"Eu saí como bailarina e,
quando voltei, me chamavam
para trabalhar mais como bailarina. Na época, tinha aquela
questão: você prefere ser bailarina ou atriz. Respondia: "Eu
sou intérprete, bailarina, atriz,
cantora, muda, fico de cabeça
para baixo, o que for necessário
para o personagem'".
E foi quando Celso Nunes a
chamou para fazer "As Lágrimas Amargas de Petra von
Kant", lembra.
A intérprete voltou para a
Europa em 1988, agora para
dançar na companhia de Maguy Marin. Em paralelo, tentou
realizar o sonho de entrar no
Théâtre du Soleil, que conhecera em 1976, quando assistiu a
"L'Age d'Or", na Cartoucherie
de Vincennes, sede do grupo.
"Cheguei lá com amigos, tinha fila, serviram sopa, sanduíche, enfim, lembro-me completamente. E foi uma peça maravilhosa. Ficou essa vontade de
um dia participar dessa trupe",
relembra. O que ocorreu 14
anos depois, em 1990, depois de
estágio e teste.
Em "Os Efêmeros", Cunha
interpreta sete personagens
em nove histórias feitas da memória e do presente. É a que
mais aparece, por assim dizer,
mas no Soleil não existe a figura
da primeira-atriz, do primeiro-ator. Além de Cunha, em meio a
cerca de 30 intérpretes, despontam talentos como a francesa Dephine Cottu e a iraniana
Shaghayegh Beheshti, para ficar nas mulheres.
"O que você faria se soubesse
que a Terra acabaria amanhã
ou em uma semana? A gente
improvisou em cima disso. Escolhíamos personagens vindos
das lembranças da avó, da família. Situações transformadas,
claro, mas pinçadas das profundezas pessoais", diz Cunha.
OS EFÊMEROS
Quando: de 12 a 23/10, em sessões
parciais e integrais
Onde: futura unidade Sesc Belenzinho
(av. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/3871-7720)
Quanto: R$ 10 a R$ 40 (ingressos esgotados). Programação paralela no site
www.sescsp.org.br/ephemeres
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