São Paulo, domingo, 10 de novembro de 2002

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ARTES PLÁSTICAS

Pinacoteca expõe retrospectiva do artista

Ianelli dá forma à troca entre as cores

TIAGO MESQUITA
CRÍTICO DA FOLHA

Mesmo tendo iniciado sua carreira como pintor figurativo, Arcangelo Ianelli nunca quis pintar coisas. Se observarmos seus quadros, desenhos e esculturas, vemos seu desejo de figurar; mas, em vez de temas, ele quis dar forma à luz que banhava os corpos, às trocas entre as cores. As formas se desprendiam de seu contorno e convergiam para um ponto em que todos os elementos se encontravam, em direção a um ponto luminoso.
Em seus primeiros trabalhos figurativos dos anos 40, o artista pinta sem que a descrição do tema tenha preponderância sobre a pintura. Esta atua relacionando feixes de luz que chegam aos olhos como a formalização de oscilações ópticas, e não a de corpos concretos.
Nas pinturas dos anos 60, a luz deixa de se manifestar nessa espécie de manto diáfano e incolor que cobre todos os elementos. Aqui, os quadros se tornam mais planos, e as suas partes, mais transparentes.
Uma forma se interpenetra na outra, indefinindo a posição dos objetos na tela. O quadro é ordenado menos pela ordem dada aos objetos no espaço do que por uma certa presença luminosa que compõe o olhar do observador, separando analiticamente cada parte e as recompondo como planos translúcidos. Essa luz unificadora aparece de maneira mais marcada.
Quando os trabalhos de Ianelli se tornam mais abstratos e geométricos, a cor fica mais granulada. Esses trabalhos são curiosamente os mais bem marcados, feitos de formas retangulares e linhas finas, mas bem traçadas, onde a profusão de cores aparece de maneira mais decidida. Entretanto, como nas naturezas-mortas dos anos 60, o artista aqui tenta unificar esses planos como corpos transparentes, como se estivesse mais interessado no fenômeno luminoso que consegue reunir diversos planos numa forma indissociável do que em lhes atribuir autonomia.
Nos trabalhos mais recentes, essa relação torna-se ainda mais vaporosa. Infelizmente, aí não existe nem a procura de uma nova forma de se relacionar com a luz nem um espaço que pode se comportar de maneira mais desinibida. Apesar de haver um nobre compromisso com a procura de beleza e harmonia, ele se converte numa forma que, ao absorver tudo, não nos deixa conhecer nem sequer a cor.
Arcangelo Ianelli


  
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, tel. 229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 17h30; até 13/12
Quanto: entrada franca



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