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São Paulo, segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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TEATRO

Ciclo "Leituras de Teatro" traz peça do americano Ken Hanes que discute falta de ética amorosa e profissional

"Consertando Frank" narra jogo de espelhos

Tuca Vieira/Folha Imagem
A partir da esquerda, Olayr Coan e os atores Luiz Damasceno e Marco Antônio Pâmio


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Três homens tropeçam em seus desejos profissionais, amorosos ou sexuais. Dois psicólogos e um jornalista. Este, amante e paciente (substantivo, não adjetivo), divisa a condição de joguete à qual ele também ajudou a se colocar. A cama e o divã são apenas o primeiro plano das (con)fusões que vão pela peça "Consertando Frank", do americano Ken Hanes, destaque de hoje no ciclo "Leituras de Teatro" da Folha.
Frank Johnston trabalha como jornalista free-lancer. Mora com um psicólogo e ativista gay, dr. Jonathan Baldwin. Um belo dia, o namorado o convence a fazer uma reportagem-bomba: disfarçar-se de paciente para desmascarar um psicanalista reacionário, dr. Arthur Apsey, que propagaria a "cura" da homossexualidade, não à toa apelidado de "Frankenstein". O personagem-título topa. O dr. Apsey percebe e desmonta a armadilha. Convence Frank a passar pelo tal método de cura para melhor sustentar seu artigo. Fim das máscaras. Vem à tona a disputa entre os dois psicólogos (Apsey acusa Jonathan de roubar seus pacientes).
Frank, de manipulador a manipulado, entre mentiras e verdades que caem como espelho, põe em xeque a sua própria sexualidade.
Autor de livros sobre o universo homossexual, Hanes começou a ser conhecido no Brasil em 2001, quando o longa-metragem "Fixing Frank", com roteiro que o próprio adaptou de sua peça homônima (de 2001), foi exibido no festival Mix Brasil. O filme é dirigido por Michael Selditch.
O ator Marco Antônio Pâmio falou com o diretor ao final da sessão de estréia em São Paulo. Selditch o colocou em contato com Hanes, que lhe enviou o texto. Pâmio trabalhou sobre a tradução por mais de dois anos, quando atuou em "A Terra Prometida" (2001), de Samir Yazbek, e "Longa Jornada Noite Adentro" (2002), de Eugene O'Neill .
Tradutor da peça, Pâmio, 41, afirma que Hanes consegue transcender ao tema da homossexualidade. "Ele mexe com fogo, cutuca ninhos de marimbondo em vários departamentos, como o da psicologia mal conduzida, que pode destruir a cabeça de um paciente, ou o do poder de persuasão que algumas pessoas, quaisquer que sejam, conseguem exercer sobre outras, mesmo aquelas que amam", diz o ator que interpreta Frank na leitura.
Há passagens provocativas que podem induzir a uma recepção homofóbica, diz Pâmio, mas o texto não envereda por aí.
Numa passagem, Jonathan afirma, em tom de desabafo: "Durante séculos, tentaram consertar a gente -com eletrochoques, nos entulhando remédios, hormônios, cortando nossos cérebros... castrando a gente".
Luiz Damasceno, que assistiu ao filme e contracenou com Pâmio em "A Terra Prometida", assume o papel do dr. Apsey. Juan Alba interpreta Jonathan.
"Consertando Frank" é investimento no teatro da palavra. Ken Hanes pede um espaço cênico o mais econômico possível. O consultório do dr. Apsey e a casa de Frank e Jonathan fundem-se o tempo todo, sem blecaute.
Pâmio, que pretende montar a peça em 2004, destaca o recurso dramatúrgico que superpõe a voz de um terceiro personagem, ele também em cena, sempre que os demais dialogam, o que expõe o processo de "contaminação" pelo discurso do outro.
A leitura de "Consertando Frank", sob direção de Olayr Coan, acontece às 20h no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, São Paulo). A entrada é franca. Interessados em comparecer devem fazer reservas, das 14h às 18h, pelo tel. 0/xx/11/3224-3473, ou mandar nome completo pelo e-mail eventofolha@folhasp.com.br.


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