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São Paulo, quarta-feira, 10 de dezembro de 2003

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MÚSICA

Livro, DVD e exposição de fotos fazem parte de iniciativa de Myriam Taubkin, que traça o mapa do instrumento

Projeto canta e vê as sanfonas do Brasil

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Inventada por um vienense e fabricada pela primeira vez na Itália do século 19, a sanfona (ou acordeão, ou ainda, gaita) chegou ao Brasil como quem procurava sua raiz perdida. Trazida pela imigração, ela aprendeu o Brasil e, com ela, o país aprendeu mais sobre partes distintas de seu território.
Traçar o mapa desse instrumento em solo brasileiro foi a tarefa encampada por Myriam Taubkin, pesquisadora musical desde 1975, que coordena o Projeto Memória Brasileira, iniciado em 1987. Os últimos resultados desse trabalho serão lançados hoje: um livro, recheado de fotografias de Angélica Del Nery (que estarão em exposição), com projeto gráfico de Gal Oppido, e um DVD produzido por Sérgio Roizenblit.
A partir de um instrumento, o Projeto Memória Brasileira partia em busca de suas raízes, de sua história e de seus músicos, culminando o trabalho com o lançamento de um CD. Na sua sexta etapa, "O Brasil da Sanfona", Taubkin optou por desdobrar o trabalho em livro e em DVD.
"A sanfona acabou se tornando um instrumento genuinamente brasileiro", afirma. "Ela se adaptou de tal maneira que criou ritmos por onde passou, no Sul, no Nordeste. O diferencial nesse projeto é que a pesquisa de identificação da cultura regional com o instrumento ficou mais profunda."

Mapeamento
"O Brasil da Sanfona" faz então uma divisão geográfica do sanfonismo nacional, dividindo-o em quatro grandes centros: Nordeste, Brasil Central, São Paulo e Rio Grande do Sul. Quatro pontos unidos, segundo Taubkin, pelo lirismo próprio do instrumento e pelo seu aspecto festivo, de comemoração. "É um instrumento que faz brilhar os olhos", diz.
No Nordeste, onde começa a viagem, imprescindível é lembrar Luiz Gonzaga (1912-1989). E a justa homenagem ao Rei do Baião se desvela, no DVD, nos versos de Patativa do Assaré (1909-2002), no que é provavelmente o último registro de imagem do poeta cearense em vida.
A viagem segue pelos ritmos do Centro-Oeste, com Dino Rocha e Zino Prado, vai a São Paulo, onde a imensa colônia de nordestinos elegeu sanfoneiros como Dominguinhos para dançar e recordar a terra, e chega ao Rio Grande do Sul, onde o sentimento da fronteira é cantado e tocado pelas gaitas de gente como Renato Borghetti e Oscar dos Reis.
No DVD, são trazidas também as performances dos instrumentistas realizadas no Sesc Pompéia, em 2002, onde desfilam mestres do porte de Sivuca, Arlindo dos 8 Baixos, Regina Waissman e Toninho Ferragutti, entre outros.
O curioso é que, mesmo com toda a tradição na sanfona, hoje o país tem apenas uma fábrica. "E mesmo assim, são instrumentos médios. Quem mantém a sanfona viva são os afinadores e consertadores", afirma Taubkin.


O BRASIL DA SANFONA. Lançamento de livro e DVD (à venda por R$ 100) e da exposição de fotos de Angélica Del Nery. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, Pompéia, tel. 3871-7700). Quando: hoje, às 20h (exposição em cartaz até 20/12). Entrada franca. Patrocínio: Grupo Galvani e MinC. Como comprar o livro: myriamtaubkin@ig.com.br


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