São Paulo, domingo, 11 de janeiro de 2009

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Crítica/"O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes"

Desenho brasileiro até tem cenas benfeitas, mas é covardia compará-lo com a Disney

Divulgação
O Grilo Feliz (ao centro) e sua turma, em cena da animação brasileira de Rafael e Walbercy Ribas

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Do ponto de vista mercadológico, é sempre louvável, pela raridade, a estreia de um longa nacional de animação -mesmo os estúdios Mauricio de Sousa lançam muito esporadicamente longas nos cinemas, em comparação com a produção massiva (e cada vez maior) dos EUA.
No caso do recém-lançado "O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes", chama mais a atenção por se tratar de uma sequência (de "O Grilo Feliz", 2001), o que indica o sucesso do personagem criado pelo veterano diretor Walbercy Ribas.
Mas é claro que, para as crianças que vão ao cinema, isso tudo é irrelevante. Acostumadas ao altíssimo padrão Disney/Pixar, Dreamworks etc., o que elas querem é assistir a bons desenhos. E, aí, a comparação é covardia.
Mesmo relevando a inferioridade técnica (derivada da diferença orçamentária), a segunda aventura do grilo cantor falha num aspecto fundamental, em que os estúdios dos EUA não costumam bobear: o roteiro.
O filme não tem uma história boa, nem sequer consistente -basta dizer que o personagem-título nem parece protagonista, na primeira metade, e que os tais insetos gigantes do título não têm função.

Estereótipos
A trama é um amontoado de situações -boa parte delas criadas unicamente para demonstrar habilidade técnica- que não formam um todo.
Pior, o roteiro, apesar de ter uma porção de mensagens edificantes, sustenta alguns estereótipos pouco educativos, no mínimo: um grupo de sapos com trejeitos e sotaque de "manos da periferia" de São Paulo (e, no filme, morando em uma favela) agem como vilões. Outro inimigo do grilo e sua turma é um motoboy.
Dirigido por Ribas e por seu filho Rafael, "O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes" foi feito com computação gráfica (o primeiro filme usou a tradicional animação 2D) para seguir a tendência dominante.
O resultado é ok, mas a mudança não se justifica além do "agora todo mundo faz assim" -basta ver que uma das melhores cenas do filme acontece quando os personagens se transformam em grafites 2D.
Há algumas cenas suficientemente benfeitas para garantir que os pais não morram de tédio, mas que eles não se enganem: este é daqueles desenhos estritamente infantis.
Quanto às crianças, devem se divertir com os personagens fofinhos (e com outros nem tanto), com as canções pop (versões de músicas de Ivete Sangalo e Jota Quest) e com o humor pueril, mas também vão notar que já viram coisa melhor.


Avaliação: regular


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