São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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"Gorda" discute preconceito com humor

Fabiana Karla, do humorístico "Zorra Total", estrela texto de Neil Labute

Dirigida pelo argentino Daniel Veronese, peça estreia amanhã no Procópio Ferreira; "sou a Leila Diniz das gordinhas", diz atriz

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Tony (Michael Bercovitch) e Helena (Fabiana Karla) na praua fictícia de "Gorda", de Neil Labute

LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Olha o tamanho disso", exclama Tony. "Tá falando de mim?", retruca Helena, com síndrome de avantajada. Sem graça, ele puxa conversa. O amor começa com um pudim.
Com esse início, não se poderia esperar nada sério. Se a peça se chama "Gorda", aumenta a impressão de uma comédia.
Mas que um desavisado não espere gargalhar impunemente. O texto de Neil Labute, dirigido por Daniel Veronese, deixa um gosto amargo na boca.
Labute ficou conhecido pelo sexismo e incorreção de filmes como "Na Companhia de Homens" (1997). A peça, que estreia amanhã no Procópio Ferreira, não é menos ácida.
"O humor sempre tocou nas feridas da sociedade de uma forma amena. É mais fácil de digerir, mas a ideia é sair com olhar transformado", diz Fabiana Karla. Atriz do humorístico "Zorra Total" (Globo), ela diz que teve de se "amarrar e prender o escracho no pé".
Em seu primeiro par romântico, contracena com Michel Bercovitch. Os dois se apaixonam, apesar dos quilos a mais, abominados pelas convenções sociais. Ele esconde dos amigos os sentimentos para não ouvir piadas sobre a namorada.
Mas o melhor amigo (Mouhamed Harfouch) e uma ex (Flávia Rubim) não perdoam.
Fabiana Karla diz que tomou "um soco no estômago" quando leu o texto pela primeira vez. "É muito forte o que eles dizem de Helena pelas costas. Mas o preconceito é uma coisa real. Sempre me param depois do espetáculo para contar experiências. Virei uma espécie de Leila Diniz das gordinhas. Sou a voz que representa muita gente."
Além dos xingamentos, ela se expõe por inteiro ao aparecer de maiô. "Fiquei na dúvida, por vaidade, mas o palco me protege e não poderia ter preconceito com meu próprio corpo", diz. Ao final, fica uma pergunta: qual o preço a pagar por amar o diferente? Nem sempre o teatro oferece as respostas.


GORDA

Quando: sex. e sáb., às 21h30; e dom., às 19h; até 2 de maio
Onde: teatro Procópio Ferreira (r. Augusta, 2.823, tel. 3083-4475)
Quanto: R$ 60 e R$ 70 (sáb.)
Classificação: 14 anos




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