São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

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Exposição em SP destaca outro lado de Alice Brill

Artista conhecida por fotografias da cidade tem mostra de sua produção têxtil e aquarelas que misturam cera e tinta

Alemã radicada no Brasil, Brill adaptou técnica de coloração de tecidos da Indonésia para trabalhos feitos sobre papel de arroz

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Em casa, Alice Brill não era a fotógrafa da transformação de São Paulo, a retratista da aristocracia e da infância na metrópole como ficou conhecida para o resto do mundo. "Ela fotografava para sustentar a gente", lembra a filha, Silvia Czapski.
"Depois que o marido virou médico é que ela foi fazer arte."
Fora do lar, essa alemã radicada em São Paulo entrou para a história como nome central da fotografia, mas é outra arte, essa de que fala a filha, que está em cartaz numa mostra que começa hoje no Sesc Pompeia.
São 22 obras, entre serigrafias, aquarelas e guaches, feitas na técnica do batik, tradição de coloração têxtil da Indonésia.
Na ilha de Java, usavam cera para impermeabilizar partes do tecido mergulhado na tinta, determinando os campos de cor.
Do outro lado do planeta, Brill, hoje com 90 anos, adaptou essa técnica. Chegou a fazer até vestidos de seda com cera e tinta, mas avançou mesmo quando decidiu aplicar esse processo ao papel de arroz.
Traduziu suas abstrações, paisagens urbanas e mangues estilizados na superfície fibrosa da folha de papel. "Quando seca a cera, ela amassa o desenho e nas rachaduras aparece a cor", descreve a filha. "Ela consegue amassar, desamassar e pintar."
Dessa arquitetura, que alterna construção e destruição, surge um suporte mais denso.
Brill exalta o desenho, aprofunda os sulcos no lugar das linhas e atinge um efeito fragmentário, de pontos de cor que se fundem ou se separam nas portas e janelas, nas raízes das plantas.
Tanto na abstração quanto nos trabalhos figurativos, essa estrutura concentrada da cor sobre os veios da cera na fibra do papel acaba destacando as entrelinhas da composição.
Brill chama a atenção para um contexto mais do que uma cena, contrasta a exatidão de sua fotografia à indefinição quebradiça das linhas que derretem, afundam ou sobressaem.
Num guache em preto e branco, delineia uma arquitetura da solidão. Isola figuras humanas em quadros distintos que encerram palavras como "espaço", "hoje" e "tempo". Logo ao lado, a mesma composição com cera e tinta suaviza o drama, em azul e amarelo. Fica evidente nessa justaposição a maneira em que usou outros suportes em sua obra como válvula de escape do trabalho fotográfico. Sem hierarquia nítida entre os campos, escancarou estratégias distintas na película, na tela e no papel.
Mas um nunca deixou de ser um reflexo forte do outro.


ALICE BRILL

Quando: ter. a sex., das 9h às 22h; sáb. e dom., das 9h às 18h; até 2/5
Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700)
Quanto: entrada franca




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