|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Exposição em SP destaca outro lado de Alice Brill
Artista conhecida por fotografias da cidade tem mostra de sua produção têxtil e aquarelas que misturam cera e tinta
Alemã radicada no Brasil, Brill adaptou técnica de coloração de tecidos da Indonésia para trabalhos feitos sobre papel de arroz
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Em casa, Alice Brill não era a
fotógrafa da transformação de
São Paulo, a retratista da aristocracia e da infância na metrópole como ficou conhecida para
o resto do mundo. "Ela fotografava para sustentar a gente",
lembra a filha, Silvia Czapski.
"Depois que o marido virou
médico é que ela foi fazer arte."
Fora do lar, essa alemã radicada em São Paulo entrou para
a história como nome central
da fotografia, mas é outra arte,
essa de que fala a filha, que está
em cartaz numa mostra que começa hoje no Sesc Pompeia.
São 22 obras, entre serigrafias, aquarelas e guaches, feitas
na técnica do batik, tradição de
coloração têxtil da Indonésia.
Na ilha de Java, usavam cera
para impermeabilizar partes do
tecido mergulhado na tinta, determinando os campos de cor.
Do outro lado do planeta,
Brill, hoje com 90 anos, adaptou essa técnica. Chegou a fazer
até vestidos de seda com cera e
tinta, mas avançou mesmo
quando decidiu aplicar esse
processo ao papel de arroz.
Traduziu suas abstrações,
paisagens urbanas e mangues
estilizados na superfície fibrosa
da folha de papel. "Quando seca
a cera, ela amassa o desenho e
nas rachaduras aparece a cor",
descreve a filha. "Ela consegue
amassar, desamassar e pintar."
Dessa arquitetura, que alterna construção e destruição,
surge um suporte mais denso.
Brill exalta o desenho, aprofunda os sulcos no lugar das linhas
e atinge um efeito fragmentário, de pontos de cor que se fundem ou se separam nas portas e
janelas, nas raízes das plantas.
Tanto na abstração quanto
nos trabalhos figurativos, essa
estrutura concentrada da cor
sobre os veios da cera na fibra
do papel acaba destacando as
entrelinhas da composição.
Brill chama a atenção para um
contexto mais do que uma cena, contrasta a exatidão de sua
fotografia à indefinição quebradiça das linhas que derretem, afundam ou sobressaem.
Num guache em preto e
branco, delineia uma arquitetura da solidão. Isola figuras
humanas em quadros distintos
que encerram palavras como
"espaço", "hoje" e "tempo". Logo ao lado, a mesma composição com cera e tinta suaviza o
drama, em azul e amarelo.
Fica evidente nessa justaposição a maneira em que usou
outros suportes em sua obra
como válvula de escape do trabalho fotográfico. Sem hierarquia nítida entre os campos, escancarou estratégias distintas
na película, na tela e no papel.
Mas um nunca deixou de ser
um reflexo forte do outro.
ALICE BRILL
Quando: ter. a sex., das 9h às 22h;
sáb. e dom., das 9h às 18h; até 2/5
Onde: Sesc Pompeia (r. Clélia, 93,
tel. 3871-7700)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Labute tem monólogo em cartaz no Rio Próximo Texto: Artes plásticas: Coletiva mostra diferentes usos do desenho Índice
|