São Paulo, terça-feira, 11 de abril de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Renomado gravurista e desenhista ganha exposições no Instituto Moreira Salles e em galeria em Pinheiros

Mostras homenageiam Grassmann, 80

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de instalações, performances e novas tecnologias usadas em profusão nas artes plásticas, Marcello Grassmann, 80, continua fiel ao traço básico do desenho e à artesania da gravura.
Obras feitas nessas duas técnicas são a base de uma grande retrospectiva sobre o artista que o Instituto Moreira Salles organiza. São 53 desenhos (expostos na sede em Higienópolis, que completa dez anos) e 20 gravuras (na galeria ao lado do Unibanco Arteplex, no shopping Frei Caneca). A mostra de desenhos abre amanhã para convidados, e a de gravuras será inaugurada na sexta.
Além disso, a partir de hoje, a galeria Gravura Brasileira, em Pinheiros, também expõe uma série de desenhos, xilogravuras (gravuras em madeira) e matrizes de Grassmann.
"Sou um anacrônico. Mas por que não ser?", indaga Grassmann, participante de nove edições da Bienal de São Paulo e de quatro da Bienal de Veneza, dois dos mais prestigiosos eventos de artes em âmbito mundial. Considerado um dos principais nomes da gravura e do desenho nas artes brasileiras, seu universo fantástico -já rotulado como expressionista, simbolista e surrealista, entre outros "istas"- é povoado por demônios, cavaleiros e seres mitológicos.
"O que mais intriga é que ele consegue surpreender e emocionar sem se render à frenética busca da novidade que caracteriza a maior parte dos artistas contemporâneos", escreve o poeta, crítico de arte e colunista da Folha Ferreira Gullar, em catálogo que apresenta a retrospectiva do IMS.
A seguir, Grassmann fala sobre seus 60 anos de carreira e alguns "anacronismos".

 

COMEÇO - Na minha infância, era normal toda criança ter livros ilustrados. No meu caso, havia o "Tesouro da Juventude", que tinha gravuras de Gustave Doré [artista francês, 1832-1883]. Também tinham ilustrações dele para o "Dom Quixote". Em outro livro, também conheci as obras de Kollwitz [Käthe, 1867-1965, artista expressionista alemã], Böcklin [Arnold, 1862-1901] e Thoma [Hans, 1839-1924, esses dois ligados ao simbolismo].
O meu avô paterno também tinha uns grifos em um espelho, que nem sei como foram parar lá.

FORMAÇÃO - Estudei na Escola Profissional Masculina, no Brás [atualmente Escola Técnica Getúlio Vargas], onde fiquei amigo de Octávio Araújo [pintor realista e expressionista], Luiz Sacilotto [artista plástico construtivista, 1924-2003] e Flávio Shiró [artista nipo-brasileiro]. Fomos uma espécie de pequeno grupo marginal. Freqüentávamos a Biblioteca Municipal, onde o Sérgio Milliet comprara muitas obras de arte para o acervo, e começamos a entrar em contato com o moderno.

AMBIENTE INTELECTUAL NOS ANOS 40 - Havia uma movimentação, tudo no centro, perto da rua Sete de Abril. Víamos Rebolo, Volpi, Graciano [todos pintores do grupo Santa Helena]. A gente podia encontrar o Monteiro Lobato na livraria Jaraguá, havia muitas livrarias no centro.

PRECURSORES - O Lívio Abramo [1903-1992, considerado um dos grandes nomes da gravura brasileira, com exposição em cartaz no Instituto Tomie Ohtake] sempre estava pelo centro, mas naquela época estava em situação difícil, precisava sustentar a família.
O Oswaldo Goeldi [1895-1961, outro grande nome de gravura brasileira] eu encontrei no Rio, quando expus em 1946. Gostávamos dos mesmos artistas, Ensor, Kubin [dois artistas expressionistas]. Era meio reservado, mas ficou meu amigo.

ESTILO - O nosso mundo é sombrio. É só olhar mendigos debaixo de uma ponte qualquer para ver Goeldi lá. Uns vêem em minhas obras o horrível, outros acham o monstruoso, já outros observam o heróico. Isso fica a critério do público.


Marcello Grassmann - Desenhos e Gravuras
Quando:
abertura hoje, às 19h; seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., das 11h às 15h; até 6/5
Onde: galeria Gravura Brasileira (r. Fradique Coutinho, 953, tel. 3097-0301)
Quanto: entrada franca

Desenhos
Quando:
abre amanhã (convidados), às 19h; ter. a sex., das 13h às 19h; sáb. e dom., das 13h às 18h; até 25/6
Onde: Instituto Moreira Salles (r. Piauí, 844, 1º andar, tel. 3825-2560)
Quanto: entrada franca


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