São Paulo, domingo, 11 de maio de 1997.



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Beato e político

free-lance para a Folha

Antônio Vicente Mendes Maciel, que se tornou o beato Antônio Conselheiro (1830-1897), não foi o primeiro nem o último místico do sertão nordestino.
Charlatão e louco, como era chamado pelos padres e pela polícia da Bahia, construiu uma cidade em Canudos, povoada por milhares de devotos.
A vida no local se repartia entre construir casebres e ouvir as prédicas do líder, que se opunham radicalmente à República, denominado-a "coisa de cão".
O despojamento dos bens materiais era garantia da salvação eterna e proporcionaria a felicidade para depois do fim do mundo.
Mas a situação de Canudos começou a mudar a partir de outubro de 1896, com o início das investidas militares no povoado.
Os sertanejos eram peritos nas emboscadas mas lutavam precariamente, sem nenhuma tática de guerra, usando chuços de boi e zagaias e lanças indígenas de caça.
Conselheiro morreu em 22 de setembro e a guerra terminou no dia 5 de outubro, deixando um saldo de mais de 570 mortos.
Testemunha ocular do episódio, Euclides da Cunha (1866-1909) o descreveu em "Os Sertões": "No final, eram um velho, dois homens feitos e uma criança na frente dos quais rugiam 5 mil soldados".
O escritor descobrira em Canudos a triste realidade brasileira.
O corpo de Conselheiro foi exumado, fotografado e sua cabeça exposta em Salvador para que não houvesse dúvidas sobre sua morte.



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