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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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Di Cavalcanti, Segall, Flávio de Carvalho, Oswaldo Goeldi e Ismael Nery estão reunidos em mostra sobre atriz argentina

Um rosto, 10 olhos

ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Rosto presente nas obras de Di Cavalcanti, Lasar Segall, Oswaldo Goeldi, Flávio de Carvalho e Ismael Nery, mas nome bem pouco constante nas referências ao modernismo brasileiro, a atriz e declamadora de poemas russo-argentina Berta Singerman (1901-1998) foi uma personagem singular na história do movimento.
A reunião de uma série de obras -guardadas há muito em locais diferentes- realizada em torno de Singerman é o fio condutor da mostra "A Aventura Modernista de Berta Singerman -°Uma Voz Argentina no Brasil", no Museu Lasar Segall, que convidou a pesquisadora argentina Patricia M. Artundo para organizar uma exposição a partir do material de Segall sobre a atriz que estava no acervo da instituição.
A essas obras, Artundo juntou mais retratos e desenhos para cenários feitos por Nery e Di, quase todas obras de colecionadores particulares, registros de voz da atriz, programas de suas apresentações, fotografias e manuscritos e primeiras edições de livros dos modernistas com quem conviveu.
"A intenção é recuperar a relação de amizade entre Berta Singerman e os artistas brasileiros, uma amizade muito longa, que foi dos anos 20 aos 60 e produziu uma troca muito rica", diz Artundo, responsável pelo Museo Xul Solar, em Buenos Aires.
Singerman fez suas primeiras apresentações em São Paulo e no Rio em 1925, quando tomou contato com os escritores Antonio de Alcantara Machado e Alvaro Moreyra. A atriz interpretava excertos de peças e poemas de escritores como Rubén Darío, Andreiev, Jean Moréas e Marqués de Santillana, com repertório calcado sobretudo na literatura latino-americana. "Ela contribuiu muito para a difusão da literatura latino-americana não apenas no Brasil e na Argentina, mas também no resto da América e na Europa. Os artistas reconheciam essa sua qualidade", explica a curadora.
Em 1927, Mário de Andrade entrevistou a artista, que se apresentava novamente no Brasil. A partir daí, é iniciada a amizade entre eles e o contato mais forte de Singerman com os modernistas. É também nessa época que seus retratos começam a ser pintados por Segall e Di Cavalcanti, que havia conhecido na casa de Alvaro Moreyra, e a amizade com Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e outros modernistas lhe rende alguns brasileiros no repertório, recitados quase sempre em espanhol.
Num texto do fim da década de 20, Mário de Andrade descreve a atriz e sua relação com a arte brasileira: "A sonoridade, os ruídos, os ritmos (...), isso é a arte que Berta Singerman quer conquistar. Então cantarolo a nossa embolada "Bambo do Bambu-bambu". (...) Com os olhos relumeantes de gozo, [ela] agarra o motivo com as duas mãos e não o larga mais".



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