São Paulo, quinta-feira, 11 de junho de 2009

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Enzensberger retrata "herói" alemão

Em São Paulo, escritor lança biografia de general que se opôs a Hitler, participa de debate e lê poesia

Norbert Millauer/France Presse
Enzenberger, que lança "Hammerstein ou a Obstinação"

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

A queda do Muro de Berlim, há quase 20 anos, foi o impulso que faltava ao escritor Hans Magnus Enzensberger, 79, para se debruçar sobre um personagem histórico alemão pouco conhecido: o general Kurt von Hammerstein (1878-1943), que se opôs à ascensão de Hitler ao posto de chanceler alemão. O militar é tema de "Hammerstein ou a Obstinação", que Enzensberger veio lançar em São Paulo, onde participa de três encontros a partir de amanhã.
Segundo o escritor, peças do quebra-cabeça histórico só foram descobertas com a queda do muro. Como o discurso, achado em arquivos de Moscou, em que Hitler mostrou seus planos de guerra aos generais, na casa de Hammerstein.
"Eu não poderia ter escrito o livro antes de 1989, porque as fontes russas se tornaram acessíveis somente a partir do governo Gorbachov", conta Enzensberger à Folha.
O escritor já se interessara pelo personagem nos anos 50, mas não havia "clima" político para abordá-lo. Hammerstein era rechaçado pela esquerda, por ser um aristocrata; e pela direita, que o considerava um traidor da pátria. Para Enzensberger, o general tampouco era alguém que queria reconhecimento: "Hammerstein sempre se recusou a ser um herói. Ele foi apenas, e desde o início, contra o regime. E o único alto oficial a deixar seu cargo nas Forças Armadas pois entendeu, já em 1933, para onde Hitler levaria a Alemanha."
Enzensberger levou três anos para escrever a biografia de tintas literárias: "A única parte fictícia são as conversas com mortos, forma que um historiador acadêmico não poderia se permitir", diz, referindo-se às entrevistas fictícias com Hammerstein e familiares. Entre eles, duas de suas filhas, ligadas a judeus comunistas, que espionaram para a Rússia leninista. E dois de seus filhos, que estiveram envolvidos no atentado contra Hitler encabeçado pelo coronel Claus von Stauffenberg (1907-1944), há pouco tempo vivido por Tom Cruise no filme "Operação Valquíria".
"A mulher de Hammerstein e seus filhos eram tão obstinados quanto ele. Embora as filhas tenham escolhido um caminho mais radical, ele não tinha nenhuma objeção às posições delas. Isso é algo incomum no meio da aristocracia militar alemã. Não conheço outro caso parecido", afirma.

Cultura e política
O primeiro encontro com Enzensberger acontece hoje, quando ele fala sobre cultura e política com Fernando Gabeira, colunista da Folha. Boa chance para o intelectual falar sobre o motivo da recente recorrência do tema da Segunda Guerra em filmes como "A Fita Branca", vencedor da Palma de Ouro em Cannes, e "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino. E no seu próprio livro.
"As catástrofes do século 20 vão nos dar trabalho ainda por muitas décadas. E não apenas as que se referem à Alemanha. Isso também vale para as ditaduras latino-americanas", diz.


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