São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Wolfenson retrata memória de Cubatão

Motivado por lembranças de sua infância, fotógrafo registra imagens de "ficção científica" da paisagem da cidade paulista

Ampliadas em grandes dimensões com jato de tinta, 16 obras compõem a exposição que é aberta hoje na galeria Millan

Bob Wolfenson
Fotografia da série "A Caminho do Mar", que são exibidas na galeria Millan até o próximo dia 6


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A meio caminho entre o Inferno e o Paraíso, existe o assombro e a provação do Purgatório. Na exposição "A Caminho do Mar", que o fotógrafo Bob Wolfenson inaugura hoje na galeria Millan, em São Paulo, esse lugar de suplício, a ante-sala da bem-aventurança, é representado metaforicamente pelo parque industrial da cidade de Cubatão.
A motivação que gerou esse novo ensaio fotográfico se deu pelas reminiscências infantis que remeteram Wolfenson, 53, ao tempo em que ia para o litoral norte de São Paulo e, pela janela do carro dos pais, observava estupefato o cenário de ficção científica formado por "uma atmosfera plúmbea, superposições de texturas, tubos gigantescos, profusão de luzes, vapores e imensas chaminés soltando fogo".
Repensada nos dias de hoje, a sensação infantil ajudou a formatar o conceito do trabalho.
"A paisagem feérica-misteriosa de Cubatão, espécie de insubordinação paisagística, uma antipaisagem localizada na fronteira exata entre serra e mar, é um marco da transição trabalho-lazer", avalia Wolfenson. Como em um clássico rito de passagem, a visão desse purgatório anunciava o fim da rotina na cidade e o início das férias de verão.
Freqüentador assíduo do litoral de São Paulo desde então, no ano passado, ao retornar da praia, em uma das curvas da rodovia Piaçagüera-Guarujá, foi tomado por um impulso: parou o carro, sacou uma câmera e pela primeira vez transformou em fotografia a paisagem que há tantos anos já se encontrava cristalizada em sua memória.
Como toda memória é impregnada de imaginação e inventividade, a expressão mais precisa da sensação que a paisagem causava na criança e que ainda reverbera no adulto não poderia estar contida na mimese, na mera transposição do visível. A busca empreendida por Wolfenson encontra seu melhor momento quando, a golpes de luz certeiros, cria atmosferas nas quais o referente passa a ser menos importante que a sensação que ele codifica.
Seguindo tendência da fotografia contemporânea, notadamente da fotografia alemã -que, com as novas tecnologias de impressão, passa a fazer uso de cópias em grandes dimensões com excelente resolução de imagem-, Wolfenson decidiu, com a ajuda de seu "impressor pessoal" Renato Cury, realizar as cópias em placas de policarbonato, uma espécie de acrílico transparente.
Impressa no verso da placa com jato de tinta, parte das 16 cópias que compõem a mostra medem 2 m x 3 m, sendo que uma delas tem 2 m x 6 m, sem emendas. A fotografia, em seu eterno jogo de aproximações e distanciamentos da pintura, se remete, dessa vez, ao muralismo e à técnica do afresco.
Sobretudo nas imagens sub- expostas, em que os olhos precisam calibrar a luz para enxergar os detalhes das cenas, Wolfenson consegue aliar competência técnica e uma genuína expressão de seu universo sensorial que finda por reativar poeticamente, no adulto, o olhar curioso e estupefato do menino a caminho do mar.

A CAMINHO DO MAR - BOB WOLFENSON
Quando:
abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h; até 6/10
Onde: galeria Millan (r. Fradique Coutinho 1.360, tel: 3031-6007)
Quanto: entrada franca


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