São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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Crítica/"Contratempo"

Malu Mader usa música para fazer boa investigação sobre jovens do país

Divulgação
Garotos da orquestra do Rio são retratados no documentário

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

A primeira sequência de "Contratempo" mostra a chegada gradual de jovens à sala de ensaio do projeto Villa-Lobinhos, no Rio de Janeiro. À barulheira natural da idade, somam-se os sons dissonantes de instrumentos sendo afinados ou "aquecidos". Ordem instaurada, o grupo toca "Abertura do Circo", de "O Grande Circo Místico", de Chico Buarque e Edu Lobo. Mesmo o ouvido não educado perceberá as imperfeições da execução, mas o documentário de Malu Mader e Mini Kerti sugere que elas têm pouca ou nenhuma importância.
Logo se percebe, afinal, que o projeto não se propõe a criar prodígios para tocar em orquestras do país ou do exterior, ainda que estimule o sonho de profissionalização de alguns. Mas, à medida que avançam os depoimentos (colhidos em 2006) de estudantes e de ex-participantes, abandona-se completamente a suspeita de que estamos diante de uma produção "chapa branca".
Em vez de aplaudir a benemerência do projeto por meio de seus resultados, como faria um documentário institucional, o filme se volta para os jovens: quem são, de onde vêm, o que sentem, pensam e desejam. Ao optar por esse percurso, "Contratempo" se aproxima de outros documentários brasileiros recentes que investigam, com base em recortes da sociedade igualmente bem definidos, as condições do presente e as perspectivas de futuro para a população jovem do país, como "Fala Tu" (2003) e "Pro Dia Nascer Feliz" (2006).
O título de "Contratempo", com sua ambiguidade, caberia em todos eles. Para os personagens desses filmes, que os acompanham durante tempo suficiente para registrar como anda a caminhada de cada um depois dos primeiros contatos, as coisas nem sempre saem de acordo com o que se planejava. Às vezes, por sinal, dão muito errado. Em alguns casos, como o da trajetória mais dramática retratada em "Contratempo", terminam de forma violenta -para a vítima e também, como baque, para o espectador.


CONTRATEMPO

Produção: Brasil, 2008
Direção: Malu Mader e Mini Kerti
Onde: estreia amanhã, no Cine Bombril e no Espaço Unibanco Augusta
Classificação: livre
Avaliação: bom



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