São Paulo, sábado, 12 de abril de 2008

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Brennand expõe desenhos sobre mulheres em SP

Um dos maiores escultores do país, pernambucano exibe traço mais livre e admite a influência da idade sobre essa mudança

"Firmeza já não é mais a mesma", diz o artista de 80 anos, conhecido por suas cerâmicas e esculturas de grande carga erótica

Danilo Verpa/Folha Imagem
"A Feiticeira', trabalho sobre papel de 1979 de Francisco Brennand, integra a mostra do artista

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ovo de cerâmica está pendurado no teto do ateliê de Francisco Brennand, em Recife. Centenas dos mesmos ovos estão espalhados pela propriedade. "Ali está a origem de tudo", diz o artista pernambucano, que fez do nu feminino e da reprodução humana motes centrais de sua produção.
Em São Paulo para a abertura ao público, hoje, de uma mostra com 59 desenhos e quatro esculturas, Brennand recebeu a reportagem da Folha segurando nas mãos um livro sobre Gustave Courbet, o realista francês que pintou "A Origem do Mundo" -retrato despudorado de uma vagina.
"Mesmo Courbet tinha vontades surrealistas, tons fantásticos", afirma, aproximando a obra dura do francês dos desenhos de sua produção recente, de um traço mais livre.
Tido como um dos maiores escultores vivos do país, Brennand, agora com 80 anos, admite que a idade tem a ver com a mudança estética que propõe nesses novos desenhos.
"A firmeza no traço já não é a mesma. A silhueta das coisas começa a escapar, e eu faço cada vez mais pressão sobre o papel", conta o artista, que se apóia numa bengala ao caminhar, movimentando-se com dificuldade.
No lugar das cerâmicas e esculturas de carga erótica que o tornaram conhecido, Brennand mostra na Caixa Cultural Paulista uma série de aquarelas e desenhos a lápis e nanquim -quase todos retratando mulheres, algumas recatadas, como "Cretense" (2006), e ninfetas nuas, como "A Modelo" (2000) e "O Beco" (2002).
Nas duas últimas, o pintor retrata jovens voluptuosas, de curvas mais generosas que o padrão atual de beleza. "Não se trata de uma mulher, é o grande mistério da humanidade, a matriz da reprodução", diz Brennand. "É a nudez valorizada. Elas precisam de formas amplas, não são manequins, cabides para mostrar roupas."
A sensualidade transbordante de suas musas aparece ao lado de figuras mais austeras em outros desenhos. Uma mulher de manto negro, personificação da morte, abraça uma jovem, com a pele à mostra, em "A Morte e a Donzela" (2002).
"O sexo nos deixa mais perplexos do que a morte", diz o artista, que ainda faz brigar as pulsões -reprodução e extinção- em seus desenhos e esculturas.


FRANCISCO BRENNAND
Quando:
de ter. a sáb., das 9h às 21h; dom., das 10h às 21h; até 25/5
Onde: Caixa Cultural - galeria Paulista (av. Paulista, 2.083, tel. 3321-4400)
Quanto: entrada franca


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