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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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ARTES PLÁSTICAS

Exposição de obras do pintor franco-romeno ganha dez trabalhos a mais em relação à temporada no Rio

Samson Flexor chega "aditivado" a SP

Divulgação
"A Dança", de Samson Flexor, um dos quadros feitos pelo pintor em homenagem a Henri Matisse


ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

Depois de dois meses expostas no Instituto Moreira Salles, no Rio, as obras do pintor franco-romeno Samson Flexor (1907-1971) chegam à galeria do Sesi, em São Paulo, com mais dez trabalhos.
A mostra é aberta por um óleo de 1952, que provavelmente teria sido pintado no Brasil, mas que foi encontrado em Paris por Jacques Douchez, um discípulo de Flexor, no Atelier Abstração, no ano passado. A seu lado, uma das frases de Flexor que pontuam a exposição: "Eu sempre preferi procurar a encontrar".
Há dois trabalhos que datam da adolescência de Samson Flexor e também retratos feitos pelo artista na década de 20 e no começo dos anos 30, como o de sua primeira mulher, Tatiana, ainda sob grande influência do fauvismo.
Em seguida, o cubismo passa a ser uma de suas grandes fontes. A desconstrução e o rearranjamento de elementos em suas telas são marcados pelo quadro "Xícaras", de 1945. No ano seguinte, Flexor vem ao Brasil pela primeira vez e se apaixona pelo país. Descreve-o como um lugar "cheio de luz, cores e doces" e, influenciado por essas cores e luzes, produz pinturas em que aparecem alguns temas relacionados ao Brasil.
Em 1948, ele decide morar em São Paulo. "O pintor chega num momento muito otimista do Brasil, numa atmosfera de que tudo ia dar certo", explica a curadora da mostra, Denise Mattar. "O Masp e o MAM estavam sendo criados, e um de seus grandes amigos foi Leon Degand, que organizou "Do Figurativismo ao Abstracionismo'", completa a curadora, sobre a exposição que reunia os principais nomes da vertente mais geométrica da arte abstrata. De brasileiros, havia Waldemar Cordeiro, Cícero Dias e Samson Flexor -apesar de só ter se naturalizado brasileiro oficialmente em 55.
Em seguida, aparecem seis quadros da série da paixão de Cristo, resultado de um voto de guerra feito pelo artista, judeu de origem, porém convertido ao catolicismo após receber auxílio de um padre quando um filho e sua primeira mulher morreram, no parto.
"Em 48/49, Degand foi embora, e eu comecei as composições sobre o tema da paixão, justamente resultado daquele voto, daquela promessa. Foram 11 quadros importantes", recorda Flexor, em depoimento coletado pelo Museu da Imagem e do Som, que pode ser ouvido na exposição.
As obras, de composição quase clássica, suscitaram críticas de colegas como Waldemar Cordeiro, que estava mais absorvido pelo embate entre figuração e abstração. "Flexor sempre foi considerado um excelente retratista e adorava fazer retratos. Nunca se chamou de "concreto" -pelo contrário, chamava os concretistas de "concretinos'", esclarece a curadora. "Ele se dizia um pintor abstrato", afirma.
Numa viagem à Bahia, Flexor desperta movimentos arredondados em trabalhos como "Invenção Baiana", os "Geométricos" e "Duas Espirais", produzidos nos prolíficos anos de 1952-54.
Mais tarde, mudaria completamente sua paleta, tendendo a perder o colorido. Sob o impacto do golpe militar de 1964, faz seus gigantescos "Bípedes".
"Vindo da guerra, ele chega ao país do "tudo vai dar certo" e de repente cai sobre ele o peso da ditadura", situa Mattar. "E ele dizia: "Não sei como o homem pode voltar tanto para trás"."

SAMSON FLEXOR: MODULAÇÕES. Onde: galeria de arte do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405). Quando: de ter. a sáb., das 10h às 20h; dom., das 10h às 19h. Quanto: entrada franca.


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