São Paulo, domingo, 12 de agosto de 2007

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Crítica/cinema/"Mestre Bimba - A Capoeira Iluminada"

Filme chama Mestre Bimba para roda

Documentário narra trajetória de Manoel dos Reis Machado, um dos maiores expoentes da tradicional capoeira baiana


Cena de "Capoeira Iluminada", de Luiz Fernando Goulart, sobre o homem que difundiu o aprendizado do esporte-símbolo da Bahia


DENISE MOTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em qualquer lugar do mundo, a ginga é um dos primeiros movimentos que o capoeirista em formação tem que aprender.
Desde a primeira aula, também deve passar a reconhecer o berimbau como instrumento-mor de qualquer roda e rápido se dará conta de que a roda não é um círculo qualquer desenhado no chão, mas o universo que contém todos os ensinamentos, histórias, truques e desafios da capoeira.
Nada nasceu de geração espontânea: o método difundido de aprendizado do esporte-símbolo da Bahia foi inventado por um só homem, Manoel dos Reis Machado (1900-1974), tema do documentário que estréia em circuito nacional.
A partir de uma simples roda, Manoel -reverenciado pelos iniciados como Mestre Bimba- superou a condição marginal de negro, pobre e ainda por cima capoeirista na Salvador do início do século 20 para se tornar o principal difusor da prática, legalizada nos anos 40 graças à criação de sua academia.
"Quando fui convidado para fazer o filme, entrei na internet para pesquisar um pouco mais sobre o tema e vi que capoeira tinha mais de 800 mil citações.
Comecei a ver que ela está no mundo todo. É um milagre de sobrevivência", diz o diretor Luiz Fernando Goulart, em entrevista à Folha.
Com uma estrutura clássica, "Capoeira Iluminada" tem como base o livro "Mestre Bimba - Corpo de Mandinga", de Muniz Sodré, e se destaca principalmente pela raridade das imagens que traz -como a de um altivo Bimba ensinando como fazer um berimbau "verdadeiro" (em oposição aos de Angola, vendidos "para turista", segundo ele)-, pela hábil utilização de canções tradicionais da capoeira para a construção da narrativa e pelos saborosos depoimentos que apresenta.
A lembrança dos entrevistados, incluindo quatro das 21 outrora "esposas" do capoeirista, vai delineando a figura de um herói justo e visionário, mas o objetivo do documentário não foi fazer um filme-homenagem, afirma o cineasta.
"Bimba não era uma Madre Teresa, mas o que se diz contra sua personalidade surge de forma indireta. Tudo o que o filme mostra eu ouvi de gente reconhecida na capoeira, e ninguém quis falar contra ele."

MESTRE BIMBA - A CAPOEIRA ILUMINADA
Produção:
Brasil, 2005
Direção: Luiz Fernando Goulart
Quando: em cartaz no cine Frei Caneca Unibanco Arteplex
Avaliação: bom


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