São Paulo, domingo, 12 de setembro de 2004

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ERUDITO

Com Antonio Meneses, OSM toca peças de Camargo Guarnieri, Villa-Lobos e o "Concerto para Violoncelo", de Dvorák

Municipal, 93, ganha delicadeza sinfônica

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Teatro Municipal traz hoje, amanhã e terça um programa de delicadeza privilegiada: peças sinfônicas de Camargo Guarnieri (1907-1993) e Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e ainda o "Concerto para Violoncelo", op. 104, de Antonin Dvorák (1841-1904), em que o solista será Antonio Meneses.
As três récitas comemoram os 93 anos do teatro. A Orquestra Sinfônica Municipal terá a regência de seu titular, Ira Levin.
Comecemos por Dvorák, lembrado neste ano pelo centenário de sua morte. Seu "Concerto" está, ao lado de peça parecida de Joseph Haydn, entre as mais apreciadas e interpretadas do repertório para violoncelo e orquestra.
Meneses, 47, o interpretou pela última vez em São Paulo, em novembro de 2000, como solista da Filarmônica da Renânia, que se apresentou na temporada do Cultura Artística com regência de Theodor Guschlbauer. Foi uma noitada memorável.
Já se tornou lugar comum relembrar que o pernambucano Meneses é um dos poucos e grandes instrumentistas brasileiros de reputação mundial. Integrante desde 1998 do Trio Beaux Arts, ele mora na Suíça e tem feito freqüentes apresentações no Brasil. Seu instrumento é um Matteo Goffriller, de 1700.
De Camargo Guarnieri a Orquestra Sinfônica Municipal interpretará uma pequena jóia sinfônica, a "Abertura Concertante", escrita em 1942, em cores muito vivas e com melodia inspirada. É uma obra que permanecia relativamente esquecida e que, ao lado das sinfonias do compositor, foi recentemente gravada pela Osesp (Sinfônica do Estado) para o selo sueco Bis.
De Villa-Lobos, uma das nove bachianas, a de número dois, bem mais conhecida pela tocata que compõe o quarto movimento, "O Trenzinho Caipira".

Problema de edição
O maestro Ira Levin diz ter encontrado dificuldades com as edições disponíveis das "Bachianas nš 2". As cópias que lhe forneceram estavam cheias de erros e apresentavam até lapsos de compassos inteiros.
Villa-Lobos foi um compositor notoriamente descuidado com os originais de suas composições. Há, obviamente, os editores que detêm seus direitos autorais. Mas nem sempre eles têm edições de confiabilidade incontestada.
"Os músicos da orquestra sabiam que, por se tratar de um repertório a que eu tive acesso recentemente, minha audição seria mais atenta na correção dos erros que tínhamos diante de nossos olhos", diz Levin, americano de nascimento e cuja carreira musical se deu na Alemanha.
Disse conceber a regência de Villa-Lobos com uma mistura de dois critérios: as indicações do próprio compositor, em gravações disponíveis, e a subjetividade que, como maestro, ele mobiliza para reger sinfonistas como Mozart ou Nielsen.
Com relação a Camargo Guarnieri, comparou a "Abertura Concertante" a uma essência colocada numa cápsula musical, com toda a riqueza da qual o compositor é capaz.


ORQUESTRA SINFÔNICA MUNICIPAL. Concerto com Ira Levin (regente) e Antonio Meneses (violoncelo). Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, região central, tel. 222-8698). Quando: hoje, às 17h, e amanhã e terça, às 21h. Quanto: de R$ 20 a R$ 50.



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