São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 2006

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Olga Prestes ganha ópera politizada

Espetáculo estréia sábado no Teatro Municipal e conta a dura vida da parceira de Luis Carlos Prestes sem romantização

Jorge Antunes dá toque contemporâneo à ópera fazendo referências a música nordestina e marchinhas de carnaval dos anos 30

Bruno Miranda/Folha Imagem
A soprano Martha Herr interpreta Olga Benário, em "Olga"


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Olga Benário Prestes (1908-1942) é um personagem mitológico na história da esquerda brasileira. Já virou livro e também filme. Agora virou ópera, escrita pelo compositor Jorge Antunes e que terá sua estréia mundial neste sábado, no Teatro Municipal de São Paulo.
Alemã e judia, Olga foi designada pelos soviéticos em 1935 como uma espécie de guarda-costas de Luís Carlos Prestes em seu retorno clandestino ao Brasil. Os dois se apaixonam, o levante comunista fracassa, e todos vão parar na prisão.
A ditadura do Estado Novo expatria Olga ao governo alemão. Ela morre numa câmara de gás, como mais uma vítima do genocídio nazista que atingiu sobretudo dissidentes políticos e judeus. "Olga" terá cinco récitas, com a Orquestra Sinfônica Municipal regida por José Maria Florêncio, o Coral Lírico preparado por Mário Zaccaro, e a direção cênica de William Pereira.
O papel título será interpretado por Martha Herr, soprano americana radicada no Brasil. Como Prestes, revezam-se, dependendo da récita, os tenores Fernando Portari e Luciano Botelho. O barítono Homero Velho, em excelente momento de sua carreira, fará Filinto Müller, o temido chefe da polícia do então Distrito Federal.
Composta entre 1987 e 1997, com libreto de Gerson Valle, "Olga" é uma ópera bem mais politizada que as precedentes versões da personagem.
Jorge Antunes teve como ponto de partida uma biografia publicada em 1962 na Alemanha por Ruth Verner, companheira de cativeiro de Olga Benario. O esboço do libreto recebeu correções do próprio Prestes, em 1988. Antunes também consultou arquivos alemães.
Esse conjunto de precauções afastou o libreto de liberdades poéticas gratuitas. De certo modo, é uma história de amor -há a citação de "Tristão e Isolda", de Richard Wagner-, mas sem perder o foco político.
Antunes qualifica sua música de "mistura de tradição com o experimental". Disse à Folha que se comoveu ao chegar sábado a São Paulo e ser informado de que, com o primeiro ensaio dos cantores e da orquestra, Martha Herr se emocionou às lágrimas com uma das árias.
Florêncio, com carreira de regente na Polônia e familiaridade com o repertório contemporâneo, diz que a partitura de Antunes traz inovações, "o que é estritamente brasilianizado", como a introdução de cantadores nordestinos ou menções a marchinhas de carnaval.
"É uma obra conseqüente na forma de ilustrar musicalmente a história", disse o maestro titular da Sinfônica Municipal.

OLGA
Quando:
dias 14, 16, 18 e 20, às 20h30, e dia 22 às 17h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, tel. 3222-8698)
Quanto: de R$ 20 a R$ 40 (R$ 10 e R$ 20 no dia 16)


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