São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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SHOW
Sambista carioca apresenta os sucessos que regravou no disco de duetos "Bodas de Ouro", lançado ano passado
Dona Ivone Lara comemora suas 'Bodas'

Divulgação
A sambista carioca Ivone Lara, que faz show único hoje em São Paulo


PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Dona Ivone Lara, 77, vem fazer roda de samba em São Paulo. A apresentação única hoje, no Sesc Ipiranga, é das raras oportunidades -aos paulistanos, principalmente- de ver e ouvir a matriarca carioca do samba sozinha, dona do palco.
O show "Bodas de Prata" é baseado no disco homônimo, que ela lançou no ano passado em comemoração a seus 50 anos de carreira artística.
O CD é uma seleção dos mais conhecidos sambas de Ivone, quase sempre cantados com parceiros que vão de Gilberto Gil e Martinho da Vila a Isabel Fillardis e Netinho do Negritude Jr.
"No show sou só eu, sem os convidados. É difícil reunir tanta gente, Gilberto Gil nem está no Brasil", afirma Ivone.
Não é de hoje que gravadoras não costumam deixar a cantora se mover sozinha.
Demora
Tendo começado sua carreira profissional em 1947, praticamente no ato de fundação daquela que até hoje é sua escola de samba, o Império Serrano (da qual é uma das fundadoras), só em 1970 pôde gravar o primeiro disco.
Antes, havia gravado uma única canção, o samba de enredo do Império "Os Cinco Bailes da História do Rio" (65), que compôs em parceria com Silas de Oliveira e Bacalhau.
"É que eu trabalhava como enfermeira formada, funcionária pública. Não queria compromisso com contrato, com a vida artística. Só no Carnaval ficava mais em evidência", diz.
Mas o disco estréia, "Sambão 70", era -adivinhe- coletivo. Produzido por Sargentelli e Adelzon Alves (que à época dava fogo novo à carreira da sambista mineira Clara Nunes), reunia Clementina de Jesus (a papisa dos artistas tardios, que só foi ser descoberta já sexagenária), Roberto Ribeiro, Ivone Lara.
"Não acho minha música parecida com a de Clara Nunes, mas me dava muito com ela. Quando compus "Alvorecer', em 74, ela lançou e vendeu 1 milhão de cópias", lembra. Também via outras vozes a sambista caiu de vez na boca do povo.
Foi quando os baianos a descobriram. Em "Álibi" (78), Maria Bethânia gravou, com Gal Costa no contracanto, "Sonho Meu" (a dos lisérgicos versos "Sinto o anto da noite na boca do vento/ fazer a dança das flores no meu pensamento"), de Ivone e seu sempre parceiro Délcio Carvalho.
Só aí Ivone conseguiu fazer eclodir sua estréia individual. Proliferaram sucessos: "Alguém Me Avisou" (novamente Bethânia gravou, agora com Gil e Caetano, em 81), "Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço" (Paulinho da Viola gravou em 83), "Enredo do Meu Samba" (tema de abertura da novela global "Partido Alto", de 84, com Sandra de Sá).
Todas essas ajudam a compor "Bodas de Prata", o disco -em duetos- e o show -só ela. Apenas duas, "Candeeiro da Vovó" e "Bodas de Prata", eram inéditas até sair o CD.
No show, a sambista não pretende introduzir novidades além das duas citadas. Mas já pensa no segundo dos três discos que diz integrarem o contrato com a gravadora Sony.
"Sinto falta de gravar mais discos sozinhas, gosto muito de fazer. O próximo vai ser só meu." Enquanto isso, há o show de hoje.

Show: Bodas de Ouro Artista: Dona Ivone Lara Onde: Sesc Ipiranga (R. Bom Pastor, 822, tel. 011/3340-2000) Quando: hoje, às 21h Quanto: R$ 10


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