|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Midas" do violino está no Cultura Artística
JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local
Não há exatamente surpresa no
fato de a Rússia abastecer o Ocidente com muitos de seus melhores intérpretes. Vadim Repin, 28,
é um violinista da última leva,
vindo da mesma cidade siberiana
e mesmo professor, Zakhar Bron,
que formou Maxim Vengerov.
Ele interpreta Mozart, Prokofiev, Chausson e Franck, de hoje a
quarta-feira, na temporada internacional do Cultura Artística.
Há em Repin algo de muito raro. É uma espécie de Midas, que
transforma em prêmios toda a
partitura que toca com os dedos e
o arco de seu Stradivarius de 1708.
Ganhou, aos 17, o Rainha Elizabeth, um dos maiores passaportes
de ingresso para os grandes solistas, além de três Diapason d'Or,
um dos mais cobiçados na França, entre suas quatro primeiras
gravações para selos ocidentais.
Em entrevista à Folha, ele diz
acreditar que, apesar da crise endêmica russa, a música sobrevive.
Folha - O sr. ainda não tem 30
anos. Que tipo de música acredita que interpretará aos 70?
Vadim Repin - Acredito que será basicamente o mesmo que agora. É impossível imaginar que o
público deixará de gostar de Beethoven, Schubert ou Bach. É provável que se dê mais atenção ao
repertório deste final de século 20.
Folha - Que é pouco gravado e
menos interpretado ainda.
Repin - Sim, mas tem tudo para
em breve se tornar "clássico". Eu
o interpreto menos do que gostaria. Só uma vez a cada seis meses
inscrevo numa récita peças de alguém como Sofia Goubaidoulina.
Folha - Sua educação musical
se deu na ex-URSS. Ela teria sido
a mesma na atual Rússia?
Repin - É difícil saber, há diferenças básicas. Era preciso vencer
muitos concursos internos para
poder concorrer a concursos estrangeiros. Tudo era centralizado
por Moscou. Hoje, ao contrário,
um músico do interior pode disputar qualquer prêmio fora.
Folha - Mas o que o governo
dava de graça não é hoje caro?
Repin - Sim. Mas estamos criando mecanismos de patrocínio privado. Há empresas que dão bolsas aos músicos. Eu mesmo estou
custeando um programa para a
formação de violinistas em Novosibirsk, na Sibéria, onde nasci.
Folha - De que forma, sem o
ônus do comunismo, evitar que
a arte seja um mercado, e a interpretação, uma mercadoria?
Repin - A música pode ser isso,
mas é também muitas outras coisas. É ao menos no que os artistas
devem crer, para não serem meros vendedores de suas técnicas
pessoais de interpretação.
Folha - Ainda há, a seu ver,
uma escola russa de violino?
Repin - A bem da verdade, nunca existiu uma escola no sentido
clássico da palavra, em que todos
os grandes instrumentistas seguissem poucas variações de um
só modelo. Sempre houve maus e
bons violinistas. Temos um histórico com Heifetz, com Oistrach. E
é dentro desse histórico que se diferenciam, às vezes bastante, técnicas de interpretação ensinadas
por determinado professor.
Concerto: Vadim Repin (violino) e
Alexander Melnikov (piano)
Quando: seg., ter. e qua., às 21h
Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196; tel. 258-3616)
Quanto: de R$ 50 a R$ 100; tarifa
estudante (R$ 10) até 30 min antes
Texto Anterior: Música Erudita: Cantor belga une estilos no Municipal Próximo Texto: Artes: Amélia Toledo abre as portas de sua obra Índice
|