São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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"Midas" do violino está no Cultura Artística

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Não há exatamente surpresa no fato de a Rússia abastecer o Ocidente com muitos de seus melhores intérpretes. Vadim Repin, 28, é um violinista da última leva, vindo da mesma cidade siberiana e mesmo professor, Zakhar Bron, que formou Maxim Vengerov.
Ele interpreta Mozart, Prokofiev, Chausson e Franck, de hoje a quarta-feira, na temporada internacional do Cultura Artística.
Há em Repin algo de muito raro. É uma espécie de Midas, que transforma em prêmios toda a partitura que toca com os dedos e o arco de seu Stradivarius de 1708. Ganhou, aos 17, o Rainha Elizabeth, um dos maiores passaportes de ingresso para os grandes solistas, além de três Diapason d'Or, um dos mais cobiçados na França, entre suas quatro primeiras gravações para selos ocidentais.
Em entrevista à Folha, ele diz acreditar que, apesar da crise endêmica russa, a música sobrevive.

Folha - O sr. ainda não tem 30 anos. Que tipo de música acredita que interpretará aos 70?
Vadim Repin -
Acredito que será basicamente o mesmo que agora. É impossível imaginar que o público deixará de gostar de Beethoven, Schubert ou Bach. É provável que se dê mais atenção ao repertório deste final de século 20.

Folha - Que é pouco gravado e menos interpretado ainda.
Repin -
Sim, mas tem tudo para em breve se tornar "clássico". Eu o interpreto menos do que gostaria. Só uma vez a cada seis meses inscrevo numa récita peças de alguém como Sofia Goubaidoulina.

Folha - Sua educação musical se deu na ex-URSS. Ela teria sido a mesma na atual Rússia?
Repin -
É difícil saber, há diferenças básicas. Era preciso vencer muitos concursos internos para poder concorrer a concursos estrangeiros. Tudo era centralizado por Moscou. Hoje, ao contrário, um músico do interior pode disputar qualquer prêmio fora.

Folha - Mas o que o governo dava de graça não é hoje caro?
Repin -
Sim. Mas estamos criando mecanismos de patrocínio privado. Há empresas que dão bolsas aos músicos. Eu mesmo estou custeando um programa para a formação de violinistas em Novosibirsk, na Sibéria, onde nasci.

Folha - De que forma, sem o ônus do comunismo, evitar que a arte seja um mercado, e a interpretação, uma mercadoria?
Repin -
A música pode ser isso, mas é também muitas outras coisas. É ao menos no que os artistas devem crer, para não serem meros vendedores de suas técnicas pessoais de interpretação.

Folha - Ainda há, a seu ver, uma escola russa de violino?
Repin -
A bem da verdade, nunca existiu uma escola no sentido clássico da palavra, em que todos os grandes instrumentistas seguissem poucas variações de um só modelo. Sempre houve maus e bons violinistas. Temos um histórico com Heifetz, com Oistrach. E é dentro desse histórico que se diferenciam, às vezes bastante, técnicas de interpretação ensinadas por determinado professor.


Concerto: Vadim Repin (violino) e Alexander Melnikov (piano) Quando: seg., ter. e qua., às 21h Onde: teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196; tel. 258-3616) Quanto: de R$ 50 a R$ 100; tarifa estudante (R$ 10) até 30 min antes

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