São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Mix Brasil traz obras do cinema asiático

Filmes retratam choque de valores e atritos entre religião e sexualidade

Produções asiáticas falam de amor gay em tempos de redefinição dos costumes; documentários lembram pioneiros do homoerotismo

Divulgação
Cena do filme taiwanês "Eterno Verão', história de um jovem que se apaixona pelo melhor amigo


SILAS MARTÍ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com um slogan infeliz -"brigas de espada como você nunca viu"-, começa hoje em São Paulo o 15º Festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual. O que se verá de hoje até 22 de novembro, porém, é um panorama do cinema consciente de sua importância em sociedades em atrito com homossexuais.
Por isso o foco do festival na Ásia, onde produções recentes mostram o choque de valores em países que se aproximam cada vez mais do Ocidente, redefinindo hábitos e costumes.
Entre os destaques desse recorte está "Spider Lilies", da taiwanesa Zero Chou, vencedora do Teddy -prêmio de melhor ficção de tema homossexual- no Festival de Berlim deste ano. É a história do amor conturbado de Takeko, dona de um salão de tatuagens em Taipei, e Jade, uma menina que ganha a vida se despindo em frente a uma webcam.
Da Indonésia, "Partilha do Amor" mostra a poligamia em tempos modernos. Quando o marido adoece, suas três esposas são forçadas a dividir o mesmo espaço e a disputar sua atenção. Mesmo com toques folhetinescos um tanto forçados, lança um olhar pouco convencional sobre o matrimônio.
A religião em conflito com a homossexualidade é tema dos documentários "Love Man Love Woman" -hoje no Cine Olido- e "A Jihad for Love".
O primeiro conta a história de gays vietnamitas que buscam a aceitação da sociedade numa seita do budismo. O segundo acompanha a vida de muçulmanos gays que tentam conciliar a fé com a sexualidade, encarando o preconceito da própria comunidade.
"O que está acontecendo agora é uma batalha em torno da alma do islã. Milhões de muçulmanos brigam para lidar com o Alcorão como um texto vivo, que saiba lidar com a realidade", disse à Folha o diretor de "Jihad", Parvez Sharma.

Outros destaques
Vencedor do Teddy de melhor documentário, "A Walk Into the Sea: Danny Williams at Warhol's Factory", de Esther Robinson, entrevista os convivas de Warhol para contar a história de seu tio, amante do artista, que desapareceu deixando apenas os filmes que fez enquanto viveu com Warhol.
Ainda em Manhattan, os primórdios da cena noturna gay, com clubes como o The Loft, é tema do documentário "The Godfather of Disco".
Do outro lado do Atlântico, Julian Cole conta em "With Gilbert & George" a história dos artistas que retrataram mendigos e michês do East End londrino e deram lastro a um imaginário gay na arte britânica. O diretor foi modelo fotográfico da dupla e inverte os papéis num filme completo, embora bastante quadrado.
O festival homenageia também o grupo performático carioca Dzi Croquettes -furacão da cena gay dos anos 70- com uma mostra na Caixa Cultural (av. Paulista, 2.083). Clássicos homoeróticos como "Satyricon", de Fellini, e "Pink Narcissus", de James Bidgood, também relembram o período.


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