São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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Coletiva contrasta nus históricos e contemporâneos em duas galerias

Mostra reúne artistas como Di Cavalcanti, Anita Malfatti e Robert Mapplethorpe

Divulgação
Tela 'Eletric Lady Land' (1995), do brasileiro Luiz Zerbini, que está em mostra na Fortes Vilaça

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Na terra elétrica, os EUA dos anos 60, loiras e morenas posam nuas cheias de excessos, fartas de curvas, cabelos e pele -é a releitura de Luiz Zerbini da capa de "Electric Ladyland", disco de Jimi Hendrix. No Brasil da mesma década, Di Cavalcanti faz uma mulata pelada com volumes transbordantes. Esse embate erótico entre histórico e contemporâneo é a chave da coletiva de nus que as galerias Fortes Vilaça e Bergamin abrem hoje, num enlace entre a Vila Madalena e os Jardins. São quase cem obras de modernistas -Anita Malfatti, Flavio de Carvalho, Di Cavalcanti- e contemporâneos -Robert Mapplethorpe, Juergen Teller, TM Davy, Adriana Varejão e Julião Sarmento. Com o foco na pele, um vídeo deste último artista transforma o corpo de divas setentistas em paisagem visual, da "claridade total" à "penumbra total", revelando só no fim as bocas tingidas de batom vermelho e a pose clássica do nu reclinado, referência do português à "Vênus de Urbino" (1538), de Ticiano. "É uma mulher nua que olha desafiadoramente para quem está a olhar", descreve Sarmento, 61. "Queria fazer um tipo de comentário sobre a pintura." Da mesma forma, a "Olympia" (1863), de Manet, vira um jovem rapaz, em estado exuberante de excitação e deitado diante de um gato, na tela a óleo do norte-americano TM Davy. "É a projeção do meu desejo", diz Davy, 28, à Folha. "É uma reação estética ao perverso." Também são dele os desenhos a lápis de partes isoladas do corpo masculino, em forte diálogo com as imagens homoeróticas cult de Robert Mapplethorpe, artista que terá retrospectiva em maio na Fortes Vilaça, e as fotografias, dos anos 30, de bonecas fragmentadas do alemão Hans Bellmer. Desajeitada como as marionetes surrealistas, uma jovem, tão magra que as costelas aparecem sob a pele branca, olha enfezada para a câmera de Juergen Teller, copo de uísque na mão e cigarro na boca. É a nudez do século 21, flagrada numa laje em Paris, ao lado de um retalho decorativo de Belmiro de Almeida, tela de 1904 que mostra uma delicada garota, mais arredondada nas formas, com a bochecha apoiada na palma da mão e olhar contemplativo rumo ao nada.


NUS

Quando: abertura hoje, às 11h; de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h (galeria Fortes Vilaça); de seg. a sex., das 11h às 19h (galeria Bergamin); até 4/4
Onde: Fortes Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 3032-7066); Bergamin (r. Rio Preto, 63, tel. 3062-2333)
Quanto: entrada franca




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