São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011 |
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Peça de Ibsen expõe miséria humana e caos A estreia de "Espectros", do dramaturgo norueguês, evidencia evolução do teatro na forma e não no conteúdo Autor foi vanguardista ao expor falência da sociedade e da vida cotidiana, tema que se tornaria recorrente
GABRIELA MELLÃO DE SÃO PAULO Considerado o pai do realismo, Henrik Ibsen (1828-1906) revolucionou o teatro ao retratar o homem de seu tempo, centrando o foco em aspectos pouco louváveis de seus comportamentos -até então omitidos de cena. "Ibsen desnudou o lado obscuro da sociedade", diz Francisco Medeiros, diretor de "Espectros", peça do autor que estreou ontem em SP. A obra chega em versão enxuta e linguagem mais coloquial. A adaptação foi feita pelo cineasta sueco Ingmar Bergman (1918-2007). Ibsen revela uma família estagnada por convenções sociais, na qual valores desvirtuados passam de geração para geração feito herança genética. A metáfora é explícita. "Espectros" retrata o retorno de um filho à casa materna. Apresenta-o com a mesma doença do pai. Desde Ibsen, o teatro expõe a miséria humana da vida, a partir da modernidade. No caminho, a linguagem e a estética mudam, não o tema. "Deus da Carnificina", da francesa Yasmina Reza, e "Pinokio", de Roberto Alvim, peças que estão em cartaz, exemplificam isso. A primeira ironiza a civilidade. A polidez dá lugar a um campo de batalha através de um incidente que envolve os filhos de dois casais. "O homem não evoluiu desde a Idade da Pedra", diz Reza. "Pinokio" apropria-se do conceito de transmutação da fábula de Carlo Collodi para evocar um novo homem. Ambas as peças sofrem influência de Ibsen ao abordarem a falência da sociedade. Ibsen lança mão de simbologias. Traduz os impulsos internos dos personagens em figuras espectrais e usa um incêndio como metáfora para a purificação necessária. Reza é explícita. Sucessivos ataques revelam a verdadeira essência dos personagens. Um deles destroça um vaso de flores com animosidade digna de selvagens. Sintonizado com as experimentações da contemporaneidade, Alvim aproxima "Pinokio" da abstração. "A peça reconstrói nosso modo de estar no mundo", diz ele. O homem surge como ícone através de personagens que rejeitam a existência cotidiana, se parecem estátuas evocando um novo mundo. A trama é inexistente, composta por uma dramaturgia fragmental, desconexa e próxima da poesia. Na história da civilização, a humanidade pode não ter progredido. Já o teatro revela-se arte da impermanência. ESPECTROS QUANDO sex., e sáb., às 21h e dom., às 19h; até 19/6 ONDE SESC Consolação (r. dr. Vila Nova, 245, 1.000, tel.0/xx/11/ 3234-3000) QUANTO de R$ 8 a R$ 32 CLASSIFICAÇÃO 14 anos Próximo Texto: Crítica/Drama: Temas contundentes de peça se dissolvem em caricaturas Índice | Comunicar Erros |
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