"Ketzal" se inspira em circo, commedia dell'arte e butô

GUSTAVO FIORATTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os membros do grupo Derevo evitam as palavras "teatro" e "ator", como especifica um texto no site da companhia russa (www.derevo.org), que apresenta o espetáculo "Ketzal", de hoje a domingo, no Teatro Sérgio Cardoso. Classificá-los como um grupo de dança tampouco soa preciso, ainda que a preparação física, o sincronismo musical e a utilização do corpo para a criação de uma ordem plástica tornem seus espetáculos verdadeiros balés.
Algumas vezes foram definidos como "palhaços" pelos jornais das várias cidades do mundo, mas é especialmente essa classificação que soa mais equivocada. Talvez seja mais correto esquecer de vez a idéia de que os intérpretes da companhia se encaixam em algum formato já estabelecido. Apenas as origens podem ser determinadas: o circo russo, a commedia dell'arte e o butô.
"Ketzal" -palavra asteca que dá nome a uma ave- é um dos principais espetáculos do Derevo, vencedor do The Golden Mask, um dos prêmios de teatro mais importantes na Rússia. Dirigido por Anton Adasinskiy (que fundou o grupo em 1988), o trabalho praticamente anula a vocação clownesca da companhia, aproximando-a mais, hoje sim, de questões relativas ao universo da dança. Para desenvolver tema que versa sobre as culturas maia e asteca, a movimentação resgata elementos rituais indígenas.
A utilização de luz e projeções -marca de outras montagens- e a própria coreografia reciclam velhos temas já visitados muitas vezes pelo próprio Derevo: temas ligados à criação do mundo, à natureza e à relação da humanidade com o planeta. Bailarinos vestindo saias encharcadas criam chuvas horizontais. Chega a respingar água na platéia.
A apresentação de "Ketzal" abre a programação do Cena Estrangeira, projeto da Secretaria de Estado da Cultura em parceria com a Associação Paulista dos Amigos da Arte que pretende trazer outras companhias estrangeiras de teatro e dança para a cidade. Em julho, é a vez da espanhola Cia Atalaya apresentar seu espetáculo "Medea", no Teatro São Pedro.