São Paulo, quarta-feira, 14 de julho de 2004

Próximo Texto | Índice

ARTES CÊNICAS

Em sua 13ª edição, evento apresenta olhares distintos sobre a contemporaneidade em quatro coreografias

Identidade perpassa o Masculino na Dança

Divulgação
O bailarino e coreógrafo James Nunes em "Só e por uma Vergonha', que será encenada no CCSP


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Uma dança que assume perspectivas, que reflete cada criador por trás de movimentos reconhecíveis, moldada de acordo com suas necessidades de expressão. De hoje até 8 de agosto acontece a 13ª edição do Masculino na Dança, no Centro Cultural São Paulo, enfatizando visões individuais num contexto contemporâneo.
Segundo o curador Marcos Bragato, a separação de masculino e feminino se dá, entre outras razões, porque, "com os modernos, e especialmente os pós-modernos, a discussão de gênero ganha uma reformulação. Homens e mulheres intercambiam tarefas. Essa foi a utopia da pós-modernidade para uma questão que deve ser entendida de outro modo porque a natureza dos corpos difere, e nessa diferença as significações culturais são de natureza diferenciada".
Serão quatro coreografias ao longo da temporada: "Delírio Remix" (de Ângelo Madureira), "Dúbbio" (Vanilton Lakka), "Só e por uma Vergonha" (James Nunes) e "Dual" (Cláudio Lacerda).
Madureira foi bailarino, coreógrafo e diretor do Balé Popular do Recife. Desde 1997 em São Paulo, iniciou uma pesquisa que entrelaça sua formação com novas referências. "Delírio" (98) representa o sonho de contar a sua história nesta cidade: "Eu me sentia solitário -eu, meu travesseiro, num quarto pequeno, com saudades de Recife, fora do meu ambiente, cheio de perguntas e angústias". Em busca de outras possibilidades cênicas, "Delírio Remix" recria a peça depois de seis anos. Pergunta-chave: quando a cultura nos molda, o que nosso corpo absorve? E como responde?
Em "Dúbbio", de Vanilton Lakka, convivência e solidão humana são postas em xeque na sua ambigüidade. É uma dança híbrida, com influências da dança de rua, da dança clássica e da contemporânea. Nessa primeira experiência solo, Lakka trabalha o processo de transmissão da dança, da experimentação mais livre à hierarquização do cânone.
"Só e por uma Vergonha" procura no corpo as sensações de lidar com o desconhecido, externalizando o que é interno. A liberdade se acha "após ultrapassarmos uma vergonha, um receio". James Nunes foi bailarino da companhia Quasar, de Goiânia, e traz no corpo muito da movimentação desse grupo, tão marcante na dança brasileira. Mas o desafio era "encontrar novos gestos" no interior dessa linguagem. A trilha sonora une sons eletrônicos com violinos, sons de filme pornográfico com sons do corpo em movimento, para fazer dançar suas possíveis sonoridades interiores.
Por fim, "Dual", de Cláudio Lacerda, assume sua inspiração na obra de Samuel Beckett (1906-89). A relação do indivíduo com a sociedade, a repressão e o confronto são temas da dança que foca o "aprisionamento, ou enclausuramento do indivíduo nesse conflito irreversível". Lacerda, que fez parte de sua formação no exterior, é artista residente do Centro Cultural José Bonifácio, no Rio.
Vivências, identidade, subjetividade: são esses os temas em comum do Masculino na Dança. Se não parecem especialmente masculinos, nem especialmente originais, isso não tira seu interesse; a prova dos nove está no corpo em movimento, e o corpo masculino, na dança, terá sempre o que aprender consigo mesmo.

MASCULINO NA DANÇA. Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso; tel.: 3277-3611). Quando: de hoje a 8/8; de qua. a sáb., às 21h; dom.; às 20h. Quanto: R$ 5.


Próximo Texto: Humor: Festival exibe documentário inédito sobre O Amigo da Onça
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.